{"id":1005095,"date":"2023-02-25T09:01:33","date_gmt":"2023-02-25T09:01:33","guid":{"rendered":"https:\/\/theintercept.com\/?p=422318"},"modified":"2023-02-25T09:01:33","modified_gmt":"2023-02-25T09:01:33","slug":"ou-as-big-techs-aceitam-mudar-ou-as-democracias-em-todo-mundo-seguirao-ameacadas-pelas-fake-news","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/radiofree.asia\/2023\/02\/25\/ou-as-big-techs-aceitam-mudar-ou-as-democracias-em-todo-mundo-seguirao-ameacadas-pelas-fake-news\/","title":{"rendered":"Ou as big techs aceitam mudar ou as democracias em todo mundo seguir\u00e3o amea\u00e7adas pelas fake news"},"content":{"rendered":"

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\n\"***ARQUIVO***BRAS\u00cdLIA,<\/p>\n

Foto: Gabriela Bil\u00f3\/Folhapress<\/p>\n

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No in\u00edcio<\/u> deste m\u00eas, conversei com um dos meus parentes que votou\u00a0 em\u00a0 Bolsonaro. Eu queria saber o que ele pensava sobre a invas\u00e3o golpista de 8 de janeiro e sobre os primeiros passos do governo Lula. O que ouvi foi uma enxurrada de opini\u00f5es baseadas em informa\u00e7\u00f5es falsas que seguem bombando nas redes sociais bolsonaristas. Em cinco minutos de conversa, ouvi cinco mentiras cabeludas: o TSE n\u00e3o aceitou divulgar o c\u00f3digo fonte<\/a> das urnas eletr\u00f4nicas; um argentino especialista e independente comprovou a fraude no processo eleitoral<\/a>; os pr\u00e9dios dos tr\u00eas poderes foram destru\u00eddos por integrantes do MST<\/a> infiltrados; Lula anunciou uma moeda \u00fanica<\/a> com a Argentina; os yanomamis que est\u00e3o morrendo de fome vieram da Venezuela<\/a>.<\/p>\n

Rebati mentira por mentira e ouvi: “ah, n\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel que tudo isso que eu falei seja mentira”. Encerramos a conversa.\u00a0 Mais tarde, enviei pelo Whatsapp links de mat\u00e9rias jornal\u00edsticas que desmentiram todas aquelas informa\u00e7\u00f5es. A resposta mostra o tamanho do buraco em que estamos enfiados: “N\u00e3o d\u00e1 pra saber. Quem \u00e9 que define o que \u00e9 verdade e o que \u00e9 mentira?”. Essa d\u00favida que confunde fato com opini\u00e3o foi plantada na cabe\u00e7a de boa parte da popula\u00e7\u00e3o justamente para legitimar as informa\u00e7\u00f5es falsas. \u00c9 como se todos tivessem o direito a ter os seus pr\u00f3prios fatos. Quem define que a cor do asfalto n\u00e3o \u00e9 rosa-choque, n\u00e3o \u00e9 mesmo?<\/p>\n

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No Brasil, a dissemina\u00e7\u00e3o de mentiras se tornou uma pol\u00edtica p\u00fablica do governo Bolsonaro. Mesmo ap\u00f3s a derrota bolsonarista nas elei\u00e7\u00f5es, milh\u00f5es de brasileiros continuam sendo enganados por uma ind\u00fastria de mentiras que segue trabalhando a todo vapor. Os 49% dos eleitores que votaram no Bolsonaro, ou seja quase metade da popula\u00e7\u00e3o, seguem recebendo nos seus celulares as not\u00edcias de um mundo paralelo. A mentira como pr\u00e1tica pol\u00edtica continuar\u00e1 sustentando os discursos de parlamentares bolsonaristas e seguir\u00e1 elegendo reacion\u00e1rio pilantra. Enquanto essa ind\u00fastria de fake news estiver funcionando, a amea\u00e7a \u00e0 democracia ser\u00e1 permanente. Desarmar essa bomba talvez seja o maior desafio do novo governo.<\/p>\n

A dissemina\u00e7\u00e3o de mentiras impulsionada pelos reacion\u00e1rios n\u00e3o \u00e9 um fen\u00f4meno brasileiro, mas mundial. \u00c9 resultado de um movimento articulado entre os agentes da extrema-direita internacional, capitaneado pelo criminoso Steve Bannon. Ele e outros extremistas americanos comemoraram<\/a> os acontecimentos de 8 de janeiro no Brasil, que claramente foram inspirados pela invas\u00e3o do Capit\u00f3lio, nos Estados Unidos, um ano antes. H\u00e1 um interc\u00e2mbio de know-how e de mentiras, o que ficou bastante claro nessas invas\u00f5es e durante a pandemia<\/a>. A defesa das democracias, portanto, deve ser articulada tamb\u00e9m de maneira global. A confer\u00eancia organizada pela Unesco <\/a>\u2014 \u00f3rg\u00e3o da ONU voltado para a Educa\u00e7\u00e3o, Ci\u00eancia e Cultura \u2014 em Paris foi o primeiro passo para a constru\u00e7\u00e3o de uma defesa global e articulada contra a ind\u00fastria das fake news. O principal ponto debatido na confer\u00eancia foi como empresas, governos e organiza\u00e7\u00f5es podem atuar em conjunto para regular as redes sociais e outras plataformas. O epis\u00f3dio de 8 de janeiro teve grande destaque na confer\u00eancia. Foi apresentado como o principal exemplo de como a propaga\u00e7\u00e3o de mentiras pode ser perigosa para as democracias.<\/p>\n

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Em carta enviada \u00e0 confer\u00eancia, o presidente Lula fez uma convoca\u00e7\u00e3o por solu\u00e7\u00f5es globais de combate \u00e0 dissemina\u00e7\u00e3o de mentiras e defendeu a cria\u00e7\u00e3o de uma regulamenta\u00e7\u00e3o internacional. O tema virou prioridade do novo governo, que tem atuado em diversas frentes<\/a>. Uma delas \u00e9 o apoio ao PL das Fake News, que tramita na C\u00e2mara e cujos principais pontos est\u00e3o em conson\u00e2ncia com o que foi debatido na Unesco. O projeto quer a responsabiliza\u00e7\u00e3o civil das Big Techs \u2014 as grandes empresas de tecnologia que dominam o mercado das redes sociais \u2014 que se omitirem diante de mentiras que disseminem incita\u00e7\u00e3o \u00e0 crimes contra a democracia e ao terrorismo. Segundo a CNN Brasil<\/a>, nos corredores do evento da Unesco algumas autoridades brasileiras se mostraram c\u00e9ticas sobre o avan\u00e7o do PL. Elas acreditam que o lobby das Big Techs \u00e9 grande e dif\u00edcil de ser superado. As grandes plataformas t\u00eam investido pesado para barrar essas movimenta\u00e7\u00f5es contra as fake news.<\/p>\n

No ano passado, as Big Techs \u2014 Facebook, Instagram, Twitter, Google e Mercado Livre \u2014 escreveram uma carta aberta<\/a> em conjunto atacando o PL das Fake News. Segundo eles, o projeto amea\u00e7a a “internet livre, democr\u00e1tica e aberta que conhecemos hoje”. Tamb\u00e9m no ano passado, o Facebook pagou an\u00fancios<\/a> de p\u00e1gina inteira nos principais jornais do pa\u00eds dizendo que o PL \u201ctraz consequ\u00eancias negativas \u00e0s pequenas empresas que usam publicidade online\u201d. Youtube e Google tamb\u00e9m publicaram em seus canais de comunica\u00e7\u00e3o artigos atacando o PL. Essas empresas n\u00e3o aceitam serem responsabilizadas pelas mentiras criminosas dos seus usu\u00e1rios. Ocorre que esse tipo de conte\u00fado sensacionalista e criminoso, costuma ser privilegiado pelos algoritmos definidos por essas empresas. Ou seja, elas lucram com isso, mas querem que a responsabiliza\u00e7\u00e3o seja apenas dos usu\u00e1rios.<\/p>\n

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No Brasil, a dissemina\u00e7\u00e3o de mentiras se tornou uma pol\u00edtica p\u00fablica do governo Bolsonaro.<\/p><\/blockquote>\n

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A elabora\u00e7\u00e3o do PL tem recebido contribui\u00e7\u00f5es do STF, do TSE e do governo federal, o que o torna mais forte. Apesar do lobby intenso, o relator Orlando Silva (PCdoB) tem se mostrado otimista<\/a>. Ele acredita que o texto pode ser apreciado pela C\u00e2mara no pr\u00f3ximo m\u00eas e est\u00e1 confiante na aprova\u00e7\u00e3o. Em uma vota\u00e7\u00e3o teste no ano passado, 249 votaram a favor do projeto e 220 contra. \u201cOs contr\u00e1rios reuniram governistas e aliados das big techs. Minha impress\u00e3o \u00e9 que hoje temos outro cen\u00e1rio, e o 8 de Janeiro aumentou a tra\u00e7\u00e3o para a aprova\u00e7\u00e3o\u201d, afirmou o parlamentar .<\/p>\n

O caminho para desarmar a ind\u00fastria das fake news ser\u00e1 longo e espinhoso no mundo inteiro. N\u00e3o h\u00e1 solu\u00e7\u00f5es r\u00e1pidas e simples. Encontrar o equil\u00edbrio entre a liberdade de express\u00e3o e o combate \u00e0s fake news \u00e9 uma tarefa dura, mas inadi\u00e1vel. As mentiras que impulsionaram ataques \u00e0 democracia e atentaram contra a sa\u00fade p\u00fablica durante a pandemia precisam ser criminalizadas, assim como as Big Techs precisam ser responsabilizadas. Ou interrompemos essa produ\u00e7\u00e3o industrial de mentiras ou aguardamos\u00a0 os pr\u00f3ximos epis\u00f3dios de selvageria e barb\u00e1rie.<\/p>\n

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No Brasil, impulsionado pelo governo federal, projeto de lei tenta responsabilizar grandes empresas pelo conte\u00fado falso produzido por usu\u00e1rios.<\/p>\n

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