{"id":1008229,"date":"2023-02-28T13:45:52","date_gmt":"2023-02-28T13:45:52","guid":{"rendered":"https:\/\/theintercept.com\/?p=422530"},"modified":"2023-02-28T13:45:52","modified_gmt":"2023-02-28T13:45:52","slug":"carnaval-marketing-e-pobreza-depois-da-pandemia-voltamos-a-festa-e-as-apoteoses-da-desigualdade","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/radiofree.asia\/2023\/02\/28\/carnaval-marketing-e-pobreza-depois-da-pandemia-voltamos-a-festa-e-as-apoteoses-da-desigualdade\/","title":{"rendered":"Carnaval, marketing e pobreza: depois da pandemia, voltamos \u00e0 festa e \u00e0s apoteoses da desigualdade"},"content":{"rendered":"
\n\"coluna-fabiana-moraes-carnaval-marketing-pobreza\"\n\n

Ilustra\u00e7\u00e3o: Nicholas Steinmetz para o Intercept Brasil<\/p><\/div>\n

Escrever coluna<\/u> \u00e9 correr o risco cont\u00ednuo de soar extempor\u00e2nea: as coisas sempre acontecem no atropelo e, muitas vezes, est\u00e3o l\u00e1 voc\u00ea e seu texto jornal\u00edstico prontinhos quando explode mais um assunto urgente – e o trabalho finalizado vai para o brejo. “N\u00e3o existe nada mais perec\u00edvel do que a not\u00edcia”, j\u00e1 dizia uma colega de reda\u00e7\u00e3o. Mas desta vez a extemporaneidade deste texto \u00e9 pensada e bem vinda: precisou acabar o Carnaval, a nossa ofegante epidemia, para que eu conseguisse organizar imagens e impress\u00f5es que me atravessaram nestes dias de folia. Eu vi muita beleza de longe e de perto; celebrei a nossa volta monumental \u00e0s ruas depois de dois anos pand\u00eamicos; fui atr\u00e1s de blocos cantando “Voltei, Recife” pela mil\u00e9sima vez como se fosse a primeira.<\/p>\n

Mas n\u00e3o teve felicidade, espet\u00e1culo ou cacha\u00e7a que apagassem as diversas e apote\u00f3ticas express\u00f5es de desigualdades que tamb\u00e9m atravessaram minhas retinas: elas estavam, por exemplo, nos dois milh\u00f5es de d\u00f3lares pagos pela Brahma \u00e0 modelo e empres\u00e1ria Gisele B\u00fcndchen para ficar tr\u00eas horas no camarote da marca; nos esgotos a c\u00e9u aberto que riscavam as periferias de Olinda; nas dezenas de grupos de maracatu formados majoritariamente por pessoas negras e pobres se apresentando para as brancas oligarquias pol\u00edticas de Pernambuco; nas casas e pessoas humildes<\/a> arrastadas pelas chuvas no litoral de S\u00e3o Paulo; no v\u00eddeo “fofo” da cadelinha influencer\u00a0 viajando de classe executiva<\/a> rumo a Paris.<\/p>\n

<\/div>\n

N\u00e3o \u00e9 novidade que o mundo \u00e9 um caldeir\u00e3o de disparidades, eu sei. Mas \u00e9 exatamente por isso que precisamos estar acesas sobre o que acontece ao nosso redor, principalmente depois do que passamos nos \u00faltimos anos, fosse no planeta chacoalhado pelo coronav\u00edrus, fosse especificamente no Brasil esculhambado por um governo de extrema-direita.\u00a0 O gatilho da coisa toda est\u00e1 justamente a\u00ed: parte de mim acreditou que voltar\u00edamos para a nossa maior festa popular, suspensa por dois anos, com alguns urgentes aprendizados impostos pelos enormes sofrimentos f\u00edsicos e psicol\u00f3gicos derivados da pandemia, da viol\u00eancia pol\u00edtica, do escracho na sa\u00fade. De um v\u00edrus que desenhou, para quem ainda n\u00e3o estava alerta, que pobreza extrema n\u00e3o \u00e9 somente uma condi\u00e7\u00e3o social, mas \u00e9 tamb\u00e9m um tro\u00e7o que mata; que pol\u00edticos, m\u00e9dicos e empres\u00e1rios que se auto-intitulam de patriotas agiram deliberadamente para levar a popula\u00e7\u00e3o do pr\u00f3prio pa\u00eds ao cemit\u00e9rio<\/a> (afinal, vale lembrar, “\u00f3bito tamb\u00e9m \u00e9 alta<\/a>“).<\/p>\n

Mas tocaram os clarins e foi como se estiv\u00e9ssemos presos no pa\u00eds de marchinhas preconceituosas como “olha a cabeleira do Zez\u00e9”, e n\u00e3o na na\u00e7\u00e3o de Pabllo Vittar. Como se olh\u00e1ssemos o camarote da Brahma e v\u00edssemos Gisele em 2004, em sua primeira participa\u00e7\u00e3o no rega-bofe, e n\u00e3o quase 20 anos depois. N\u00e3o era somente o look da modelo que de certa forma se repetia: ali se cristalizavam velhas estrat\u00e9gias de marketing, da hiper visibiliza\u00e7\u00e3o de pessoas e temas enquanto outros permanecem (propositalmente) no escuro. A Ambev, dona da Brahma e do camarote de celebridades, \u00e9 um \u00f3timo exemplo para pensar sobre isso: h\u00e1 anos, tem buscado se modernizar e se inserir no mercado da “responsabilidade social”. \u00c9 o caso da sua \u00e1gua mineral Ama, lan\u00e7ada em 2017. Aos jornais que compraram a ideia pelo valor de face, a fabricante de bebidas diz<\/a> que “o lucro com a venda do produto \u00e9 integralmente revertido para projetos e obras de acesso \u00e0 \u00e1gua pot\u00e1vel no semi\u00e1rido”.\u00a0 Ou seja, na verdade voc\u00ea e eu pagamos os projetos ao comprar a \u00e1gua, uma vez que a Ambev repassa o valor enquanto, claro, conta conosco para fazer publicidade org\u00e2nica do produto.<\/p>\n

\n\"obras-periferia-olinda1\"\n

Obras na na rodovia PE-015, que liga \u00e0 cidade de Olinda e se arrastam h\u00e1 anos<\/p>\n

\nFoto: Fabiana Moraes<\/p><\/div>\n

Mas vale especialmente atentar para o abismo entre o valor investido no projeto social e a apari\u00e7\u00e3o da modelo. No primeiro, uma a\u00e7\u00e3o que, segundo a empresa, chegou a mais de 35 mil pessoas, foram empregados R$ 3 milh\u00f5es em 2018, o que equivale a cerca de R$ 4 milh\u00f5es<\/a> nos dias atuais (valor corrigido pelo \u00cdndice Nacional de Pre\u00e7o ao Consumidor). S\u00e3o apenas 40% do montante total investido para pagar a uma \u00fanica pessoa – Gisele – para que ela fosse at\u00e9 o camarote da Brahma. Para isso, a cervejaria desembolsou R$ 10,3 milh\u00f5es por tr\u00eas horas de close.<\/p>\n

S\u00f3 que nem a \u00e1gua nem o super cach\u00ea s\u00e3o a parte mais vis\u00edvel dos neg\u00f3cios da empresa: com os holofotes voltados para a “responsabilidade social” ou Gisele, outros interesses da Ambev v\u00e3o seguindo s\u00f3 no sapatinho. Na estrat\u00e9gia da \u00e1gua mineral Ama, realizada a partir\u00a0 de um mapeamento de parcerias, funda\u00e7\u00f5es e ONGs estabelecidas nos sert\u00f5es nordestinos e em Minas Gerais, acionistas como Jorge Paulo Lemann emulam programas de universaliza\u00e7\u00e3o da \u00e1gua j\u00e1 tocados, por exemplo, pelo governo federal e entidades como a Articula\u00e7\u00e3o Semi\u00e1rido Brasileiro, a ASA<\/a>. Assim, trazem para o privado, e usando fortemente a estrat\u00e9gia do “empreendedorismo”, quest\u00f5es que j\u00e1 foram resolvidas com \u00eaxito atrav\u00e9s de pol\u00edticas p\u00fablicas (Nestl\u00e9, Ambev e Coca-Cola possuem enorme interesse na privatiza\u00e7\u00e3o da \u00e1gua, como mostrou o Joio e o Trigo aqui<\/a>). O problema \u00e9 que, h\u00e1 anos, programas como o Um Milh\u00e3o de Cisternas sofreram duros revezes, especialmente no governo de – adivinhem quem – Jair Bolsonaro. Com o desmonte, partidos do Centr\u00e3o passaram a usar os reservat\u00f3rios de \u00e1gua como moeda de troca para obter votos, como j\u00e1 escrevi aqui<\/a>. E n\u00e3o apenas legendas como o PP de Arthur Lira se beneficiaram das “bondades” de Jair: a Ambev e a Coca-Cola embolsaram R$ 1,6 bilh\u00e3o ap\u00f3s um decreto assinado pelo ex-presidente e o ent\u00e3o ministro da Economia Paulo Guedes. Com ele, as empresas puderam cobrar cr\u00e9ditos por impostos que nunca pagaram, como lemos nesta reportagem<\/a> do TIB em parceria com o Joio e o Trigo. “A Ambev visa ocupar o cen\u00e1rio de desmonte de pol\u00edticas p\u00fablicas voltadas para comunidades pobres do meio rural do semi\u00e1rido brasileiro”, bem sintetiza o pesquisador Vald\u00eanio Meneses (UFPR) neste artigo<\/a>.<\/p>\n

(…)<\/p>\n

Agora pe\u00e7o licen\u00e7a<\/u> e saio do camarote cheio de holofotes e do semi\u00e1rido posto no escuro e me dirijo para Olinda. L\u00e1, encontro outra enorme mostra que, depois de dois anos sem Carnaval, com formas de trabalho e geopol\u00edtica transformadas, as coisas mudaram para continuar como est\u00e3o. Fui novamente ao encontro anual de maracatus de baque solto na Cidade Tabajara, algo que fa\u00e7o h\u00e1 mais de dez anos. Na subida, baianas, damas, guerreiros e caboclos tentavam proteger as fantasias do esgoto a c\u00e9u aberto que corria pelas cal\u00e7adas. Chegavam para apresentar beleza e eram recebidos com precariedade.<\/p>\n

Fui at\u00e9 uma \u00e1rea do Centro Cultural Casa da Rabeca, onde dezenas de grupos de caboclinhos, maracatus e bois se apresentam. Em um espa\u00e7o mais protegido, prefeitos, deputados, governadores, l\u00edderes comunit\u00e1rios e outras pessoas influentes postavam-se para ver as dezenas de agremia\u00e7\u00f5es e ouvir os mestres.\u00a0 V\u00e1rios deles homenageiam as figuras de poder e cantam seus feitos, ainda que eles n\u00e3o tenham necessariamente acontecido. Esta mesma din\u00e2mica acontece em cidades que visitei, como Alian\u00e7a e Nazar\u00e9 da Mata, onde ocorrem encontros de maracatus.<\/p>\n

Sempre me constrangi profundamente com a forma com que o poder local se relaciona com estes artistas, como se os \u00faltimos viessem de longe prestar homenagem aos reis ou senhores. Senti isso na primeira vez que estive ali, no come\u00e7o da d\u00e9cada de 2010, e encontrei o ex-governador Eduardo Campos, morto em um acidente de avi\u00e3o em 2014. Senti o mesmo na segunda de carnaval, mais de dez anos depois, quando encontrei no mesmo lugar <\/a>o filho de Eduardo, o rec\u00e9m-eleito deputado federal Pedro Henrique de Andrade Lima Carneiro Campos, ou simplesmente Pedro Campos (PSB).<\/p>\n

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Deputado Pedro Campos, irm\u00e3o mais novo do prefeito de Recife, no encontro de Maracatus<\/p>\n

\nFoto: Fabiana Moraes<\/p><\/div>\n

Aos 27 anos, Pedro (irm\u00e3o mais novo de Jo\u00e3o Campos, prefeito de Recife) nunca tinha concorrido a uma elei\u00e7\u00e3o desse porte, mas sagrou-se como o terceiro deputado federal com mais votos no pleito de 2022 (172.526 mil votos). Com seus olhos claros, pele branca e patrim\u00f4nio declarado de R$ 1.771.075<\/a>, o deputado tinha seu nome cantado diversas vezes pelos mestres de maioria negra, que\u00a0 o saudavam e agradeciam a sua presen\u00e7a. Sorrisos, Instagram, filtros, aplausos, tradi\u00e7\u00f5es e inven\u00e7\u00f5es repaginadas – mas nem tanto.<\/p>\n

Para al\u00e9m das sinceras demonstra\u00e7\u00f5es de apre\u00e7o, os cantos elogiosos tamb\u00e9m s\u00e3o fruto da enorme cultura de depend\u00eancia que atravessa as milhares de pessoas que botam, com pouca grana e muito suor, sua dan\u00e7a nas ruas. Com um empresariado local muitas vezes refrat\u00e1rio a contribuir com o que n\u00e3o consideram “moderno” (ou branco) e com prefeituras dominadas pelo gosto do gestor ou gestora da vez, os maracatus passam por constrangimentos diversos para conseguir se apresentar. S\u00e3o pessoas que trabalham em frigor\u00edficos, na constru\u00e7\u00e3o civil, entregando comida, em casa ou nos canaviais e precisam gastar quantias razo\u00e1veis em vestimentas, em viagem, em alimenta\u00e7\u00e3o. N\u00e3o, esse corre tamb\u00e9m n\u00e3o \u00e9 novidade, mas o que pensar de uma nova gera\u00e7\u00e3o de pol\u00edticos que n\u00e3o se incomoda em performar pr\u00e1ticas simb\u00f3licas e anacr\u00f4nicas t\u00e3o comuns em uma terra que at\u00e9 hoje adora a tradi\u00e7\u00e3o do servilismo? Ali\u00e1s, quais s\u00e3o mesmo as “tradi\u00e7\u00f5es” que queremos manter? Como n\u00e3o racializar essa rela\u00e7\u00e3o? Quando as fantasias de Casa Grande e Senzala v\u00e3o ser efetivamente deixadas para tr\u00e1s nos carnavais do Brasil?<\/p>\n

Passei um bom tempo ali observando as din\u00e2micas de ra\u00e7a e de classe que se repetiam na folia ao redor. A m\u00fasica Dia da Gra\u00e7a<\/a>, de Candeia, n\u00e3o sa\u00eda da minha cabe\u00e7a: “Mas depois da ilus\u00e3o, negro volta ao humilde barrac\u00e3o\/Negro, acorda, \u00e9 hora de acordar\/N\u00e3o negue a ra\u00e7a, torne toda manh\u00e3 dia de gra\u00e7a (…) E deixa de ser rei s\u00f3 na folia\/E fa\u00e7a da sua Maria uma rainha todos os dias\/E cante um samba na universidade\/E ver\u00e1 que teu filho ser\u00e1 pr\u00edncipe de verdade”.<\/p>\n

(…)<\/p>\n

Voltei para casa<\/u> e passei novamente pelo show de urbaniza\u00e7\u00e3o prec\u00e1ria que infelizmente marca a Olinda para al\u00e9m do s\u00edtio hist\u00f3rico. Uma cidade incr\u00edvel que dificilmente tem gestores \u00e0 sua altura. Passei por outra apoteose, a do trabalho precarizado, com muita, muita gente tentando vender alguma coisa para sobreviver. No Instagram, o cach\u00ea de Gisele e a cadelinha Fifi, digital influencer canina que eu, na minha profunda ignor\u00e2ncia, desconhecia, eram os assuntos da vez. Com elas, concorria no notici\u00e1rio a trag\u00e9dia das dezenas de mortes no litoral de S\u00e3o Paulo em decorr\u00eancia da m\u00e1 gest\u00e3o urban\u00edstica, e n\u00e3o exatamente das chuvas.\u00a0 Leio e escuto que muita gente aproveitava o caos e as mortes para ganhar dinheiro<\/a>.<\/p>\n

Carnaval, desigualdade, gan\u00e2ncia. Infelizmente, nesse bolo de coisas, apenas Fifi gastando R$ 30 mil em uma passagem a\u00e9rea era novidade.<\/p>\n

 <\/p>\n

Dedico esta coluna a Gilberto, Eduarda e Davi, do Maracatu Pantera da Vila, de Ch\u00e3 de Alegria. \u00c9 para essa fam\u00edlia, que representa tantas outras nos carnavais sem holofotes, que v\u00e3o as minhas loas.<\/i><\/p>\n

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Quando as fantasias de Casa Grande e Senzala v\u00e3o ser efetivamente deixadas para tr\u00e1s nos carnavais do Brasil?<\/p>\n

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