{"id":186272,"date":"2021-05-31T19:30:51","date_gmt":"2021-05-31T19:30:51","guid":{"rendered":"https:\/\/theintercept.com\/?p=356188"},"modified":"2021-05-31T19:30:51","modified_gmt":"2021-05-31T19:30:51","slug":"funcionarios-do-imperio-alimenticio-marata-usam-tiro-fogo-e-violencia-para-tomar-area-de-camponeses-no-maranhao","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/radiofree.asia\/2021\/05\/31\/funcionarios-do-imperio-alimenticio-marata-usam-tiro-fogo-e-violencia-para-tomar-area-de-camponeses-no-maranhao\/","title":{"rendered":"Funcion\u00e1rios do imp\u00e9rio aliment\u00edcio Marat\u00e1 usam tiro, fogo e viol\u00eancia para tomar \u00e1rea de camponeses no Maranh\u00e3o"},"content":{"rendered":"

Q<\/span>uase todo lar maranhense tem um produto do Grupo Marat\u00e1 sobre a mesa, na geladeira ou na despensa. Caf\u00e9, pimenta, vinagre, temperos, sucos, molhos e cuscuz s\u00e3o os mais comuns. A marca \u00e9 onipresente no com\u00e9rcio da capital S\u00e3o Lu\u00eds e nas vendinhas de uma s\u00f3 porta de comunidades rurais. Nelas n\u00e3o pode faltar o fumo Marat\u00e1, ou \u201cporronca\u201d, como \u00e9 conhecido o fumo de corda j\u00e1 desfiado vendido em pacotinhos pl\u00e1sticos de 50 gramas. <\/p>\n

Foi com a venda desse tipo de fumo, t\u00e3o popular nas zonas rurais do norte e nordeste do pa\u00eds, que o dono do Grupo Marat\u00e1, o sergipano Jos\u00e9 Augusto Vieira, iniciou seu imp\u00e9rio agroindustrial nos anos 1960, na cidade de Lagarto, a pouco mais de 65 km de Aracaju, capital de Sergipe. Hoje, a empresa est\u00e1 em todos <\/a>os estados do Brasil, possui seis plantas industriais em Sergipe e produz mais de 150 itens.<\/p>\n

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O que talvez pouca gente saiba \u00e9 que para a constru\u00e7\u00e3o de parte desse imp\u00e9rio, centenas de homens, mulheres, crian\u00e7as e idosos pagaram e ainda pagam, no Maranh\u00e3o, um alto pre\u00e7o que n\u00e3o \u00e9 revelado ao consumidor final. Pelo menos desde 2004, funcion\u00e1rios da empresa expulsaram com amea\u00e7as, destrui\u00e7\u00e3o e inc\u00eandios camponeses que vivem e trabalham na zona rural do munic\u00edpio de Timbiras, nordeste do estado, de terras disputadas pela empresa.<\/p>\n

A Marat\u00e1 alega que as \u00e1reas s\u00e3o suas. O caso, no entanto, \u00e9 mais um exemplo do caos da documenta\u00e7\u00e3o de terras no Brasil \u2013 que resulta em conflitos violentos nos quais os mais fracos costumam perder. Embora a empresa tente ficar com a terra, os camponeses buscam que a justi\u00e7a reconhe\u00e7a o direito das fam\u00edlias sobre as \u00e1reas, com base em regras do C\u00f3digo Civil. As fam\u00edlias que vivem l\u00e1 ocupam a \u00e1rea h\u00e1 quase um s\u00e9culo, de acordo com depoimentos dos camponeses entrevistados. Muito antes de a Marat\u00e1 e o seu fundador existirem. O processo de reconhecimento da \u00e1rea em nome dos camponeses est\u00e1 em andamento desde janeiro de 2020.<\/p>\n

O caderno de Conflitos no Campo Brasil de 2020<\/a>, publicado hoje pela CPT, Comiss\u00e3o Pastoral da Terra, aponta que o Brasil teve 1.576 conflitos por terra registrados no ano passado, afetando 171.625 fam\u00edlias. O Maranh\u00e3o \u00e9 o segundo estado mais conflituoso, com 203 ocorr\u00eancias. Em primeiro lugar est\u00e1 o Par\u00e1, com 254 ocorr\u00eancias, e em terceiro o Mato Grosso, com 166. Os conflitos por terra incluem despejos, expuls\u00f5es, amea\u00e7as, invas\u00f5es e a\u00e7\u00f5es de pistolagem. Pelo menos 18 pessoas foram assassinadas no pa\u00eds em consequ\u00eancia deles.<\/p>\n

S\u00f3 no Maranh\u00e3o, os conflitos no campo no ano passado afetaram 21.737 fam\u00edlias. Na raiz da viol\u00eancia est\u00e1 a grilagem.<\/p>\n

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Tiros, fogo e jagun\u00e7os uniformizados<\/h3>\n

O<\/span> ataque mais recente aconteceu em 13 de agosto de 2019, quando tr\u00eas homens com uniformes da Agromarat\u00e1<\/a>, o bra\u00e7o agropecu\u00e1rio do grupo, atearam fogo em casas, estruturas e na produ\u00e7\u00e3o dos camponeses, segundo relatos dos moradores. Eles afirmam que foram destru\u00eddas resid\u00eancias de taipa, duas casas de produ\u00e7\u00e3o de farinha e sacas de farinha, milho, arroz e outros alimentos que as fam\u00edlias tinham produzido nas comunidades Santa Maria e Jaqueira, a cerca de 13 km da sede de Timbiras. Al\u00e9m de mantimentos, as v\u00edtimas relatam que foram destru\u00eddas roupas, vasilhas, redes, ferramentas e outros itens pessoais dos camponeses. Era perto de meio dia, e a maioria das pessoas estava distante das casas, trabalhando na ro\u00e7a.<\/p>\n

Naquele dia, os jagun\u00e7os da Marat\u00e1, depois de provocarem terror na comunidade, deram 24 horas para que as fam\u00edlias fossem embora dali, segundo Cleones Batista Gomes, 43 anos, morador de Santa Maria. As fam\u00edlias se arranjaram como foi poss\u00edvel, levando o que havia sobrado do inc\u00eandio. Quem n\u00e3o tinha como sair contou com a sorte. <\/p>\n