{"id":18679,"date":"2021-01-27T17:14:54","date_gmt":"2021-01-27T17:14:54","guid":{"rendered":"https:\/\/theintercept.com\/?p=342830"},"modified":"2021-01-27T17:14:54","modified_gmt":"2021-01-27T17:14:54","slug":"ex-conselheiros-contam-por-que-o-cfm-nao-ousa-desmentir-governo-sobre-falsos-tratamentos-para-covid-19","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/radiofree.asia\/2021\/01\/27\/ex-conselheiros-contam-por-que-o-cfm-nao-ousa-desmentir-governo-sobre-falsos-tratamentos-para-covid-19\/","title":{"rendered":"Ex-conselheiros contam por que o CFM n\u00e3o ousa desmentir governo sobre falsos tratamentos para covid-19"},"content":{"rendered":"

Respons\u00e1vel por investigar<\/u> e punir profissionais da sa\u00fade que violem a \u00e9tica m\u00e9dica, o Conselho Federal de Medicina levou nove meses para se pronunciar sobre os falsos tratamentos para covid-19 estimulados pelo governo federal. A omiss\u00e3o, no entanto, n\u00e3o acabou. Em um artigo publicado no \u00faltimo domingo, Mauro Ribeiro, presidente do CFM, deixou claro que o conselho n\u00e3o ir\u00e1 agir para acabar com a farsa do tratamento precoce.<\/p>\n

O que as recentes notas e manifesta\u00e7\u00f5es do CFM e dos conselhos regionais de medicina n\u00e3o dizem \u00e9 que essa \u00e9 uma orienta\u00e7\u00e3o e vontade interna, com o intuito de n\u00e3o romper o alinhamento ideol\u00f3gico das chefias desses \u00f3rg\u00e3os com o presidente Jair Bolsonaro, conforme revela a apura\u00e7\u00e3o do Intercept<\/strong>.<\/p>\n

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Conversamos com 11 m\u00e9dicos, ex-presidentes de conselhos regionais e ex-conselheiros dos \u00f3rg\u00e3os, que revelaram os bastidores de a\u00e7\u00e3o dessas institui\u00e7\u00f5es e como elas se isolaram do debate sobre a maior crise de sa\u00fade p\u00fablica do s\u00e9culo, que j\u00e1 matou mais de 200 mil pessoas. Tudo para n\u00e3o corroer o apoio do presidente e de seus seguidores.<\/p>\n

As fontes ouvidas, sob condi\u00e7\u00e3o de anonimato, afirmaram que, internamente, a orienta\u00e7\u00e3o aos m\u00e9dicos que integram tanto o conselho federal quanto o conselho regional de S\u00e3o Paulo, o maior do Brasil, \u00e9 de evitar se posicionar. Seja em redes sociais privadas ou em entrevistas \u00e0 imprensa, os profissionais de sa\u00fade devem evitar men\u00e7\u00f5es p\u00fablicas sobre o uso de cloroquina, hidroxicloroquina e outros medicamentos defendidos pelo governo federal no combate \u00e0 covid-19.<\/p>\n

Orienta\u00e7\u00e3o aos m\u00e9dicos \u00e9 de evitar se posicionar em redes sociais e imprensa sobre tratamento precoce.<\/blockquote>\n

Estudos apontam que a cloroquina e a hidroxicloroquina s\u00e3o rem\u00e9dios com efeitos colaterais graves, como arritmia card\u00edaca e complica\u00e7\u00f5es renais, e comprovadamente ineficazes no tratamento da covid-19, mesmo em quadros graves. Em alguns casos, podem matar o paciente. O C\u00f3digo de \u00c9tica M\u00e9dica veda ao m\u00e9dico a divulga\u00e7\u00e3o de promessas de resultados e cura, al\u00e9m de tratamentos sem comprova\u00e7\u00e3o cient\u00edfica, o sensacionalismo e a autopromo\u00e7\u00e3o. S\u00e3o os conselhos de medicina que, em tese, deveriam fiscalizar essas m\u00e1s pr\u00e1ticas \u2013 mas est\u00e3o omissos.<\/p>\n

Ap\u00f3s press\u00e3o da classe m\u00e9dica e da imprensa, os dois \u00f3rg\u00e3os se manifestaram recentemente sobre o fantasioso \u201ctratamento precoce\u201d, defendido pelo Minist\u00e9rio da Sa\u00fade. N\u00e3o h\u00e1, por\u00e9m, nenhuma inten\u00e7\u00e3o de desencoraj\u00e1-lo. “O ponto fundamental que embasa o posicionamento do CFM \u00e9 o respeito absoluto \u00e0 autonomia do m\u00e9dico”, escreveu<\/a> Ribeiro na Folha de S.Paulo. Para ele, as cr\u00edticas ao uso de tratamentos desmentidos por diversos estudos n\u00e3o passam de uma “politiza\u00e7\u00e3o criminosa” a que o CFM n\u00e3o se render\u00e1.<\/p>\n

Bolsonaro e a omiss\u00e3o<\/h3>\n

O alinhamento entre Bolsonaro e o atual presidente do CFM, Mauro Ribeiro, foi elucidado ao longo de 2020. Em abril do ano passado<\/a>, Ribeiro entregou ao presidente um parecer sobre o uso da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19. A conclus\u00e3o do cirurgi\u00e3o-geral, formado pela Faculdade de Medicina de Petr\u00f3polis, no Rio de Janeiro, foi de que n\u00e3o havia evid\u00eancias de sucesso do medicamento no combate \u00e0 doen\u00e7a. Mas, ainda assim, o presidente do CFM defendeu que os m\u00e9dicos est\u00e3o autorizados a prescrever o medicamento, principalmente para casos leves, se julgarem necess\u00e1rio.<\/p>\n

Um m\u00eas antes desse encontro<\/a>, Bolsonaro compartilhou no Twitter um v\u00eddeo de Ribeiro. Nele, o presidente do CFM atacava os governadores do Nordeste<\/a> que defendiam a proposta de trazer ao Brasil 15 mil profissionais da sa\u00fade brasileiros que atuavam no exterior para ajudar o setor p\u00fablico no combate \u00e0 pandemia.<\/p>\n

No dia 14 de janeiro deste ano, o governo federal lan\u00e7ou o aplicativo TrateCov<\/a> e foi criticado por grande parte da comunidade cient\u00edfica do pa\u00eds. O app permitia que qualquer cidad\u00e3o fizesse uma simula\u00e7\u00e3o de diagn\u00f3stico e recebesse indica\u00e7\u00e3o de tratamentos com rem\u00e9dios como a cloroquina. Demorou uma semana para que o conselho se manifestasse pedindo o cancelamento do aplicativo, que foi tirado do ar horas depois. Segundo o ministro Pazuello, a plataforma n\u00e3o teria sido disponibilizada, mas um \u201chacker\u201d teria publicado o aplicativo de pol\u00edticas p\u00fablicas governamental.<\/p>\n