{"id":196049,"date":"2021-06-08T19:40:20","date_gmt":"2021-06-08T19:40:20","guid":{"rendered":"https:\/\/theintercept.com\/?p=358909"},"modified":"2021-06-08T19:40:20","modified_gmt":"2021-06-08T19:40:20","slug":"youtube-pagou-r-69-milhoes-em-dois-anos-a-canais-bolsonaristas-investigados-no-stf","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/radiofree.asia\/2021\/06\/08\/youtube-pagou-r-69-milhoes-em-dois-anos-a-canais-bolsonaristas-investigados-no-stf\/","title":{"rendered":"YouTube pagou R$ 6,9 milh\u00f5es em dois anos a canais bolsonaristas investigados no STF"},"content":{"rendered":"

O YouTube pagou<\/u> R$ 6,873 milh\u00f5es entre 2018 e 2020 a 12 canais bolsonaristas suspeitos de envolvimento nos\u00a0protestos contra o Supremo Tribunal Federal e o Congresso\u00a0do ano passado. Os valores, apurados pela Pol\u00edcia Federal no inqu\u00e9rito dos atos antidemocr\u00e1ticos, mostram que a montanha de dinheiro \u2013 que \u00e9 fruto dos an\u00fancios fornecidos pelo Google \u2013 movimentada pela rede de extrema direita \u00e9 muito maior do que se pensava.<\/p>\n

O dinheiro da rede social financiou influenciadores como Oswaldo Eust\u00e1quio, Sara Winter, Ernani Fernandes Barbosa Neto, do Folha Pol\u00edtica, e Anderson Azevedo Rossi, do Foco do Brasil. Todos s\u00e3o investigados por inflamarem atos golpistas realizados ao longo do ano passado e que incitavam Bolsonaro a intervir no\u00a0STF e no Congresso Nacional.<\/p>\n

O maior arrecadador em valores brutos \u00e9 o canal Folha Pol\u00edtica, que come\u00e7ou como um site e hoje \u00e9 um dos maiores canais de direita do YouTube. Com mais de 2 milh\u00f5es de seguidores e quase 1 bilh\u00e3o de visualiza\u00e7\u00f5es desde 2016, o canal recebeu do YouTube 486 mil d\u00f3lares entre junho de 2018 e maio de 2020. Isso equivale a mais de R$ 2,590 milh\u00f5es, pelo c\u00e2mbio de 29 de maio do ano passado.<\/p>\n

Em seguida, aparece o canal Folha do Brasil, atualmente chamado Foco do Brasil, que recebeu 307 mil d\u00f3lares (1,5 milh\u00e3o de reais) em um per\u00edodo de apenas nove meses, entre setembro de 2019 e maio de 2020 \u2013 o que faz dele o maior arrecadador mensal. Os valores s\u00e3o o que se chama de monetiza\u00e7\u00e3o e s\u00e3o pagos pelo Google a canais que exibem an\u00fancios, de acordo com a audi\u00eancia deles.<\/p>\n

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Reprodu\u00e7\u00e3o\/STF<\/p><\/div>\n

Os demais canais que receberam dinheiro dos an\u00fancios do Google s\u00e3o Na\u00e7\u00e3o Patriota, Sara Winter, Oswaldo Eust\u00e1quio, TV Direita News, Ravox Brasil, Emerson Teixeira, Vlog do Lisboa, Direto aos Fatos e Giro de Not\u00edcias. Os n\u00fameros foram obtidos pela Pol\u00edcia Federal por meio de depoimentos, apreens\u00f5es e acesso a dados protegidos por sigilo banc\u00e1rio e fiscal, e sistematizados na manifesta\u00e7\u00e3o da Procuradoria-Geral da Uni\u00e3o.<\/p>\n

Os valores est\u00e3o no inqu\u00e9rito aberto pelo Supremo para descobrir como foram organizados e financiados os atos antidemocr\u00e1ticos. Parte da investiga\u00e7\u00e3o teve o sigilo derrubado na segunda-feira, 7, pelo ministro Alexandre de Moraes.<\/p>\n

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O relat\u00f3rio da PF aponta a exist\u00eancia de uma rede coordenada \u2013 que inclusive tinha influ\u00eancia em outras inst\u00e2ncias do governo, como a Secretaria Especial de Comunica\u00e7\u00e3o e no Minist\u00e9rio da Mulher, Fam\u00edlia e Direitos Humanos. A pol\u00edcia trabalhava com a hip\u00f3tese de que recursos p\u00fablicos eram distribu\u00eddos aos golpistas pela Secretaria da Comunica\u00e7\u00e3o do governo Bolsonaro e que um grupo formado por funcion\u00e1rios p\u00fablicos ou pol\u00edticos se reunia para promover os atos antidemocr\u00e1ticos.<\/p>\n

Mas a PF esbarrou na dificuldade de obter provas \u2013 a partir de mandados de busca e apreens\u00e3o, por exemplo \u2013 e n\u00e3o conseguiu preencher todas as lacunas. Sugeriu, ent\u00e3o, aprofundar a investiga\u00e7\u00e3o posteriormente. Mas a Procuradoria-Geral da Rep\u00fablica, a PGR, que comanda o Minist\u00e9rio P\u00fablico Federal, s\u00f3 se manifestou cinco meses depois \u2013 e pediu o arquivamento da investiga\u00e7\u00e3o na sexta-feira, 4.<\/p>\n

Para justificar o pedido, o subprocurador-geral Humberto Jacques de Medeiros \u2013\u00a0substituto imediato de Augusto Aras \u2013 afirmou que “em uma sociedade democr\u00e1tica […] todos os atos se pressup\u00f5em democr\u00e1ticos […], exigindo-se prud\u00eancia na invoca\u00e7\u00e3o de tutela penal”, e fez men\u00e7\u00e3o \u00e0 Lei de Seguran\u00e7a Nacional. A PGR, no entanto, apontou buracos na investiga\u00e7\u00e3o \u2013 especialmente sobre a origem e o destino do dinheiro da rede golpista. Em sua manifesta\u00e7\u00e3o, o \u00f3rg\u00e3o chamou a aten\u00e7\u00e3o para o alto volume de dinheiro entregue pelo Google para youtubers extremistas. Os valores colhidos pela Pol\u00edcia Federal foram somados e organizados em uma tabela.<\/p>\n

“Os n\u00fameros apresentados pelo Google sugerem que a monetiza\u00e7\u00e3o de conte\u00fado antidemocr\u00e1tico na sua plataforma de streaming, o YouTube, gerou um lucro expressivo para os respectivos ‘criadores’ e certamente muito mais para o provedor de internet que os remuneraram com centenas de milhares de d\u00f3lares”, disse a procuradoria. “A despeito da exist\u00eancia de ind\u00edcios concretos de que a plataforma tinha conhecimento de que esses produtores estavam em desconformidade com as pol\u00edticas e diretrizes do seu programa de parcerias”.<\/p>\n

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Imagem: Reprodu\u00e7\u00e3o\/STF<\/p><\/div>\n

O Minist\u00e9rio P\u00fablico tamb\u00e9m criticou a lentid\u00e3o nas investiga\u00e7\u00f5es sobre os youtubers, o que permitiu que muitos deles apagassem v\u00eddeos para evitar que fossem indiciados por crimes. Logo depois do cumprimento dos mandados, em junho, os administradores do canal Ter\u00e7a Livre apagaram 272 v\u00eddeos. Em fevereiro de 2021, o Giro de Not\u00edcias (que faturou US$ 219 mil entre dezembro de 2018 e maio de 2020) apagou 1,3 mil v\u00eddeos \u2013 a maior parte deles contra o STF. O Intercept <\/b>j\u00e1 denunciou<\/a> essa estrat\u00e9gia em abril.<\/p>\n

Um alimenta o outro<\/h3>\n

Em 2018, o t\u00e9cnico de inform\u00e1tica Anderson Azevedo Rossi resolveu se apropriar do canal de games de seu filho e mudar a conversa. Em vez de resenhas sobre Minecraft, Rossi come\u00e7ou a publicar conte\u00fado de apoio a Jair Bolsonaro. Surgia ali o canal Folha do Brasil \u2013 depois rebatizado de Foco do Brasil \u2013 e, com ele, dinheiro r\u00e1pido: 10 mil d\u00f3lares em um m\u00eas. Entre os v\u00eddeos publicados por Rossi, est\u00e3o p\u00e9rolas como “Urgente! Roberto Jefferson acaba de denunciar golpe de Maia contra Bolsonaro” e “O depoimento e as ‘provas’ de Moro na PF, Bolsonaro d\u00e1 posse, STF fervendo, Alexandre Garcia e mais!”. Ambos foram apagados<\/a>.<\/p>\n

N\u00e3o parou por a\u00ed. Gra\u00e7as a um contato na EBC, a emissora p\u00fablica de televis\u00e3o, Rossi conseguiu transmitir imagens de sat\u00e9lite obtidas pela emissora p\u00fablica de comunica\u00e7\u00e3o direto em seu canal, o que lhe rendia dinheiro gr\u00e1tis. Tamb\u00e9m retransmitia conte\u00fado da TV Brasil.<\/p>\n

Mas o fil\u00e9 da programa\u00e7\u00e3o do Foco do Brasil era mesmo os v\u00eddeos exclusivos de Bolsonaro, que ele recebia por WhatsApp direto de um assessor do presidente, T\u00e9rcio Arnaud Tomaz, segundo a investiga\u00e7\u00e3o. O logotipo do canal criado por Rossi pode ser visto no canto superior direito da tela nas grava\u00e7\u00f5es das conversas de Jair Bolsonaro com apoiadores na porta do Pal\u00e1cio da Alvorada reproduzidas por redes de televis\u00e3o.<\/p>\n

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Tomaz \u00e9 apontado como um dos principais operadores do gabinete do \u00f3dio, grupo de bolsonaristas que ganhou empregos no Pal\u00e1cio do Planalto e cujo trabalho \u00e9 defender o presidente e sua fam\u00edlia, al\u00e9m de atacar e difamar advers\u00e1rios. Para isso, ganha R$ 13 mil mensais, pagos com dinheiro p\u00fablico.<\/p>\n

Tomaz \u00e9 apontado pela PF como l\u00edder de um esquema<\/a> alimentado pelo pr\u00f3prio Planalto para abastecer youtubers extremistas com conte\u00fado que gerava engajamento e centenas de milhares de reais por m\u00eas. A estimativa \u00e9 que eles faturavam<\/a> at\u00e9 R$ 100 mil divulgando informa\u00e7\u00f5es obtidas em primeira m\u00e3o. O gabinete do \u00f3dio enviava os v\u00eddeos e os youtubers postavam coisas como “Bolsonaro d\u00e1 ultimato para sabotadores e intromiss\u00f5es” e “A For\u00e7a de Bolsonaro \u00e9 maior que Congresso e STF”. Se a investiga\u00e7\u00e3o prosseguisse, poderia se debru\u00e7ar sobre o paradeiro dessa dinheirama. Ser\u00e1 que ele foi parar apenas no bolso dos youtubers?<\/p>\n

O Foco do Brasil \u00e9 exemplo cristalino da rela\u00e7\u00e3o prom\u00edscua e de retroalimenta\u00e7\u00e3o que a rede de extrema direita no YouTube mant\u00e9m com Bolsonaro e seu c\u00edrculo pr\u00f3ximo. Por um lado, os youtubers ajudam a divulgar os atos e a\u00e7\u00f5es do presidente, a emplacar suas narrativas e arrebanhar fi\u00e9is. Por outro, se beneficiam \u2013 com audi\u00eancia e muito dinheiro \u2013 dos conte\u00fados produzidos pelo pr\u00f3prio presidente.<\/p>\n


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PR @jairbolsonaro<\/a> alerta mais uma vez para o risco do Brasil quebrar.<\/p>\n

*Via @focodobrasil<\/a> (novo nome do Folha do Brasil). pic.twitter.com\/NZmZTQqrdo<\/a><\/p>\n

— Eduardo Bolsonaro?? (@BolsonaroSP) May 15, 2020<\/a><\/p><\/blockquote>\n