Quando algum morador<\/u> de Maring\u00e1 quer encontrar o deputado federal Ricardo Barros, costuma se dirigir ao apartamento em que ele vive com a fam\u00edlia desde 2004 na regi\u00e3o central da cidade paranaense. O parlamentar,\u00a0atual l\u00edder do governo Bolsonaro na C\u00e2mara dos Deputados, informou\u00a0em suas presta\u00e7\u00f5es de contas ao Tribunal Superior Eleitoral que o im\u00f3vel \u00e9 sua \u00fanica propriedade residencial ao longo de quatro elei\u00e7\u00f5es seguidas. Por\u00e9m, at\u00e9 2018, o apartamento ainda estava em nome dos pais do dono de uma das empresas investigadas na CPI da Covid: a Belcher Farmac\u00eautica.<\/p>\n
Trata-se de um im\u00f3vel de 380 metros quadrados, com duas vagas de garagem, localizado em um pr\u00e9dio de luxo, com quadra de t\u00eanis, piscina e academia, em um bairro arborizado, pertinho dos pontos tur\u00edsticos da cidade em que o parlamentar come\u00e7ou sua vida pol\u00edtica. No site de uma imobili\u00e1ria local, \u00e9 poss\u00edvel encontrar um apartamento do mesmo porte, no mesmo pr\u00e9dio, por R$ 3,4 milh\u00f5es.<\/p>\n
Barros comprou o apartamento em 2004 de um antigo amigo e aliado pol\u00edtico, Francisco Feio Ribeiro Filho, mais conhecido como Chiquinho Ribeiro, por meio de um “contrato particular” \u2013 ou seja, que n\u00e3o foi registrado em cart\u00f3rio. A venda s\u00f3 foi regularizada no 2\u00ba Registro de Im\u00f3veis de Maring\u00e1 em 2018, data em que tamb\u00e9m foi registrado o contrato ‘de gaveta’ firmado 14 anos antes<\/span>.<\/p>\n Nesse meio tempo, n\u00e3o havia qualquer confirma\u00e7\u00e3o legal de que a propriedade estava em nome do deputado. E \u00e9 aqui que a hist\u00f3ria fica\u00a0 interessante: Chiquinho \u00e9 pai de Daniel Moleirinho Feio Ribeiro, um dos s\u00f3cios da farmac\u00eautica Belcher do Brasil. A empresa \u00e9 uma das investigadas na CPI da Covid por suspeita de irregularidades na negocia\u00e7\u00e3o de vacinas\u00a0do coronav\u00edrus pelo Minist\u00e9rio da Sa\u00fade \u2013 e Barros, filiado ao PP, \u00e9 suspeito de beneficiar a farmac\u00eautica.<\/p>\n\n Chiquinho constava como propriet\u00e1rio do apartamento junto da esposa, Rosinda Moleirinho Ribeiro, desde 1990. Ele e Barros s\u00e3o amigos h\u00e1 bastante tempo. Chiquinho foi nomeado presidente da Urbamar, companhia de urbaniza\u00e7\u00e3o de Maring\u00e1, durante o mandato de Barros como prefeito pelo ent\u00e3o PFL, entre 1989 e 1993. Em 2018, quando a esposa de Barros, Cida Borghetti, governava o Paran\u00e1, ele se tornou conselheiro da Sanepar, empresa de saneamento do Paran\u00e1.<\/p>\n Questionado sobre o im\u00f3vel, Barros <\/span>respondeu que o declara desde a compra no Imposto de Renda e nas presta\u00e7\u00f5es de contas eleitorais. No TSE, o deputado informa desde 2006 que possui parte de um im\u00f3vel <\/a>no valor de R$ 130 mil. Perguntado porque demorou quase uma d\u00e9cada e meia para transferir o apartamento para seu nome, o deputado disse apenas que achou “mais oportuno \u00e0 \u00e9poca”. Tamb\u00e9m procuramos os representantes da Belcher, que n\u00e3o quiseram se manifestar.<\/span><\/p>\n Quando foi ouvido pela CPI sobre suspeitas de participa\u00e7\u00e3o no esquema de corrup\u00e7\u00e3o, em 12 de agosto, Barros afirmou que \u00e9 “amigo pessoal” de Chiquinho e Daniel, mas foi esquivo ao falar de seu envolvimento com a Belcher. Tampouco lembrou de citar que morou por anos no apartamento da fam\u00edlia Feio. Disse apenas que “como empresa da minha cidade de Maring\u00e1, gostaria que ela [Belcher] fosse mais bem-sucedida nos seus neg\u00f3cios<\/a>“.<\/p>\n E ele se esfor\u00e7ou para isso. No come\u00e7o do ano, a Belcher negociou com o Minist\u00e9rio da Sa\u00fade a compra de 60 milh\u00f5es de doses da vacina chinesa de dose \u00fanica Convidencia, produzida pela Cansino Biologics, por cerca de R$ 5 bilh\u00f5es. Cada dose foi or\u00e7ada em 17 d\u00f3lares,\u00a0uma das vacinas mais caras dentre as negociadas pelo governo<\/a>\u00a0(o imunizante da Janssen, tamb\u00e9m de dose \u00fanica, custa 10 d\u00f3lares).<\/p>\n A intermedia\u00e7\u00e3o do neg\u00f3cio da Belcher com a c\u00fapula do governo foi feita por Barros<\/a>, conforme relato de um dos s\u00f3cios da farmac\u00eautica \u00e0 CPI, e apoiada publicamente<\/a> pelos empres\u00e1rios bolsonaristas Carlos Wizard e Luciano Hang. As negocia\u00e7\u00f5es estavam avan\u00e7adas, mas o contrato foi rescindido pela Cansino<\/a> em 10 de junho, ap\u00f3s cita\u00e7\u00e3o da Belcher na CPI.<\/p>\n A Belcher tem faturado alto com o governo Bolsonaro. Ela come\u00e7ou a vender para a Uni\u00e3o a partir do ano passado \u2013 a imensa maioria dos contratos foi fechado ap\u00f3s agosto, quando Ricardo Barros j\u00e1 era l\u00edder do governo na C\u00e2mara. O \u00faltimo contrato, de mais de R$ 100 mil, foi em julho deste ano. A Belcher j\u00e1 havia sido alvo da CPI naquele momento.<\/p>\n