{"id":375909,"date":"2021-11-05T11:00:37","date_gmt":"2021-11-05T11:00:37","guid":{"rendered":"https:\/\/theintercept.com\/?p=375095"},"modified":"2021-11-05T11:00:37","modified_gmt":"2021-11-05T11:00:37","slug":"empresa-dos-eua-fez-experimentos-de-risco-na-china-com-virus-da-sindrome-respiratoria-do-oriente-medio-na-china","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/radiofree.asia\/2021\/11\/05\/empresa-dos-eua-fez-experimentos-de-risco-na-china-com-virus-da-sindrome-respiratoria-do-oriente-medio-na-china\/","title":{"rendered":"Empresa dos EUA fez experimentos de risco na China com v\u00edrus da s\u00edndrome respirat\u00f3ria do Oriente M\u00e9dio na China"},"content":{"rendered":"

Documentos divulgados<\/u>\u00a0no final de outubro pelo Instituto Nacional de Sa\u00fade dos Estados Unidos, NIH na sigla em ingl\u00eas, levantam novas quest\u00f5es sobre pesquisas de v\u00edrus financiadas pelo governo norte-americano e realizadas na China. Os relat\u00f3rios anuais da EcoHealth Alliance, que o NIH enviou ao Intercept<\/b> em resposta a uma a\u00e7\u00e3o judicial<\/a>, forneceram evid\u00eancias adicionais de que a entidade americana \u2014 que estuda doen\u00e7as infecciosas nascentes \u2014 e sua parceira, o Instituto de Virologia de Wuhan, estavam envolvidos em experi\u00eancias arriscadas e que o NIH pode n\u00e3o ter tido pleno conhecimento dessas atividades.<\/p>\n

Em setembro, o Intercept recebeu duas propostas de subs\u00eddios<\/a> que da EcoHealth Alliance que foram apresentadas ao NIH. Uma delas, \u201cUnderstanding the Risk of Bat Coronavirus Emergence<\/a>\u201d(Entendendo o Risco da Emerg\u00eancia do Coronav\u00edrus de Morcego), detalhou pesquisas preocupantes e potencialmente perigosas<\/a> conduzidas com coronav\u00edrus de morcego conduzidas em Wuhan, na China. Mas a primeira libera\u00e7\u00e3o dos documentos, que o Intercept recebeu mais de um ano ap\u00f3s t\u00ea-los solicitado, n\u00e3o incluiu o relat\u00f3rio de progresso para o quinto e \u00faltimo ano de financiamento da subven\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Em 20 de outubro, o NIH forneceu o relat\u00f3rio que faltava<\/a> para o per\u00edodo que terminava em maio de 2019, inexplicavelmente datado de agosto de 2021. Esse resumo do trabalho do grupo inclui uma descri\u00e7\u00e3o de um experimento que a EcoHealth Alliance conduziu envolvendo clones infecciosos do MERS-CoV, o v\u00edrus que causou um surto mortal de s\u00edndrome respirat\u00f3ria do Oriente M\u00e9dio, em 2012. A MERS tem uma taxa de letalidade de at\u00e9 35%<\/a>, muito mais alta que a da covid-19. De acordo com o relat\u00f3rio, os cientistas trocaram o dom\u00ednio receptor do v\u00edrus, ou RBD, uma parte da prote\u00edna spike que permite que ele entre nas c\u00e9lulas de um hospedeiro. \u201cConstru\u00edmos o clone infeccioso completo do MERS-CoV, e substitu\u00edmos o RBD do MERS-CoV pelos RBDs de v\u00e1rias cepas de coronav\u00edrus relacionadas aos coronav\u00edrus HKU4<\/a> previamente identificados em morcegos de diferentes prov\u00edncias do sul da China\u201d, escreveram os cientistas.<\/p>\n

<\/div>\n

\u201cMudar o local de vincula\u00e7\u00e3o do receptor na MERS \u00e9 meio louco\u201d, escreveu Jack Nunberg, virologista e diretor do Centro de Biotecnologia da Universidade de Montana, em um email ao Intercept, ap\u00f3s revisar os documentos. \u201cEmbora esses novos v\u00edrus quim\u00e9ricos possam reter propriedades da espinha dorsal gen\u00e9tica do MERS-CoV, a engenharia de um pat\u00f3geno humano conhecido levanta novos e imprevis\u00edveis riscos al\u00e9m daqueles colocados pelos estudos previamente relatados usando a espinha dorsal n\u00e3o patog\u00eanica do v\u00edrus do morcego\u201d. A inten\u00e7\u00e3o dos pesquisadores, que alguns cientistas consideram fundamental para definir o ganho de fun\u00e7\u00e3o gen\u00e9tica, permanece pouco clara.<\/p>\n

\u201cNo mesmo relat\u00f3rio, eles mostraram dados de que um de seus v\u00edrus quim\u00e9ricos semelhantes \u00e0 SARS causou mais doen\u00e7as em um modelo animal humanizado do que o v\u00edrus original\u201d, disse Alina Chan, uma bi\u00f3loga molecular radicada em Boston e coautora do livro \u201cViral: The Search for The Origin of Covid-19\u201d (\u201cViral: a busca pela origem da covid-19\u201d), ainda no prelo. \u201cDepois de ver esse resultado, por que eles fizeram um trabalho similar usando o pat\u00f3geno humano MERS?\u201d<\/p>\n

O Intercept perguntou anteriormente \u00e0 EcoHealth Alliance sobre o trabalho com MERS-CoV citado em se\u00e7\u00f5es da concess\u00e3o de verbas que o NIH liberou em setembro. Na ocasi\u00e3o, o porta-voz da EcoHealth, Robert Kessler, insistiu que o grupo n\u00e3o havia conduzido o trabalho. \u201cO trabalho com MERS proposto \u00e9 sugerido como uma alternativa e n\u00e3o foi realizado\u201d, escreveu Kessler em um e-mail em setembro. Ele n\u00e3o respondeu a uma pergunta que o Intercept mandou antes da publica\u00e7\u00e3o deste texto, sobre a aparente falsidade de sua declara\u00e7\u00e3o anterior.<\/p>\n

O trabalho com o v\u00edrus MERS complica as alega\u00e7\u00f5es anteriores da EcoHealth Alliance de que a pesquisa n\u00e3o tinha envolvido trabalho com \u201cpat\u00f3genos potencialmente pand\u00eamicos\u201d, ou v\u00edrus, bact\u00e9rias e micro-organismos que t\u00eam um risco prov\u00e1vel de propaga\u00e7\u00e3o incontrol\u00e1vel entre humanos. Kessler havia dito anteriormente ao Intercept que \u201ctodos os outros v\u00edrus estudados sob esta concess\u00e3o de verbas s\u00e3o v\u00edrus de morcegos, n\u00e3o v\u00edrus humanos\u201d. Mas \u00e9 sabido que o MERS infecta e se propaga em humanos, e foi especificamente designado em uma antiga pausa<\/a> imposta pelo NIH ao financiamento de pesquisas de ganho de fun\u00e7\u00e3o preocupantes.<\/p>\n

Outras quest\u00f5es surgem dos experimentos do grupo com coronav\u00edrus de morcegos. Como o Intercept escreveu anteriormente, as propostas para obter subs\u00eddios feitas pela EcoHealth Alliance e divulgadas em setembro continham descri\u00e7\u00f5es de um experimento em ratos que haviam sido geneticamente modificados para conter um receptor enzim\u00e1tico encontrado em c\u00e9lulas humanas. Esses \u201cratos humanizados\u201d foram infectados com coronav\u00edrus de morcegos contendo partes de outros v\u00edrus. Em certos momentos durante o experimento, os v\u00edrus mutantes se reproduziram muito mais rapidamente nos ratos do que o v\u00edrus original de morcego no qual eram baseados, e tamb\u00e9m eram um pouco mais patog\u00eanicos, levando v\u00e1rios especialistas a concluir que se enquadravam na defini\u00e7\u00e3o de pesquisa de ganho de fun\u00e7\u00e3o<\/a> do NIH.<\/p>\n

O governo federal dos EUA pausou temporariamente essas pesquisas de ganho de fun\u00e7\u00e3o envolvendo pat\u00f3genos potencialmente pand\u00eamicos em 2014, mas elas foram retomadas em 2017, quando o Departamento de Sa\u00fade introduziu diretrizes <\/a>conhecidas como P3CO, que buscavam proteger contra o risco de surto de doen\u00e7as.<\/p>\n

Em setembro, o Intercept perguntou ao NIH se algu\u00e9m na ag\u00eancia estava ciente dos experimentos em ratos humanizados. Tamb\u00e9m questionou se, depois que eles resultaram em evid\u00eancia de crescimento do v\u00edrus maior que 1 log em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 cepa original, os pesquisadores foram orientados a \u201cparar todos os experimentos com esses v\u00edrus e fornecer ao Oficial do Programa NIAID e Especialista em Gest\u00e3o de Subs\u00eddios, e ao Comit\u00ea Institucional de Biosseguran\u00e7a do Instituto de Virologia de Wuhan, os dados e informa\u00e7\u00f5es relevantes relacionados a esses resultados imprevistos\u201d, como a bolsa exigia especificamente. Perguntamos ainda por que essa pesquisa n\u00e3o estava sujeita nem \u00e0 pausa tempor\u00e1ria nem \u00e0s diretrizes do P3CO.<\/p>\n

Em resposta, a porta-voz do NIH, Elizabeth Deatrick, escreveu: \u201cO IP [investigador principal] relatou esses resultados no relat\u00f3rio de progresso do ano 4 e no pedido de renova\u00e7\u00e3o de subs\u00eddio. A pesquisa descrita foi revista e foi considerada n\u00e3o sujeita \u00e0 Pausa de Financiamento de Pesquisa de Ganho de Fun\u00e7\u00e3o 2014-2017 ou \u00e0s regras estruturadas no P3CO\u201d.<\/p>\n

Em uma carta<\/a> enviada ao deputado republicano James Comer, do Kentucky, o Diretor Adjunto Principal do NIH, Lawrence Tabak, parecia sugerir que a ag\u00eancia n\u00e3o<\/i> tinha conhecimento da pequisa problem\u00e1tica. \u201cA EcoHealth n\u00e3o relatou essa descoberta imediatamente, como era exigido pelos termos do financiamento\u201d, ecreveu Tabak a Comer, membro do Comit\u00ea de Supervis\u00e3o e Reforma da C\u00e2mara, que tamb\u00e9m recebeu uma c\u00f3pia do relat\u00f3rio anual de progresso da bolsa para a pesquisa sobre o coronav\u00edrus de morcego.<\/p>\n

Embora seja cr\u00edtico da EcoHealth Alliance, Tabak tamb\u00e9m parecia sugerir que n\u00e3o havia nada de alarmante na pesquisa, a qual ele chamou de \u201cexperimentos limitados\u201d. Depois de reconhecer que alguns dos ratos humanizados que foram infectados com os v\u00edrus mutantes ficaram mais doentes que os infectados com os v\u00edrus originais, ele disse que os cientistas n\u00e3o pretendiam obter esse resultado. \u201cComo \u00e0s vezes ocorre na ci\u00eancia, esse foi um resultado inesperado da pesquisa, em vez de algo que os pesquisadores se propuseram a fazer\u201d.<\/p>\n

Tabak tamb\u00e9m enfatizou, como o Intercept relatou anteriormente, que os v\u00edrus estudados nos experimentos com ratos estavam t\u00e3o evolutivamente distantes do SARS-CoV-2 que eles n\u00e3o poderiam ter se transformado no v\u00edrus que causou a pandemia de covid-19. Essa vis\u00e3o tamb\u00e9m foi repetida em uma breve an\u00e1lise<\/a> da pesquisa que o NIH publicou em seu site.<\/p>\n

Tamb\u00e9m entre os documentos que o NIH entregou ao Intercept estava a vers\u00e3o original de um relat\u00f3rio anual do quarto ano do financiamento para a pesquisa com coronav\u00edrus de morcego. A vers\u00e3o divulgada em setembro indicava que ela havia sido aporesentada em 2020, ap\u00f3s o in\u00edcio da pandemia e mais de dois anos<\/a> ap\u00f3s o seu vencimento. As duas vers\u00f5es parecem ser quase id\u00eanticas, embora incluam publica\u00e7\u00f5es de refer\u00eancia diferentes. O NIH ainda n\u00e3o divulgou as comunica\u00e7\u00f5es em torno da concess\u00e3o que possam explicar por que o documento foi atualizado.<\/p>\n

De acordo com a carta de Tabak, o NIH exigiu informa\u00e7\u00f5es adicionais da EcoHealth Alliance. \u201cA EcoHealth est\u00e1 sendo notificada de que tem cinco dias a partir de hoje para enviar ao NIH todo e qualquer dado n\u00e3o publicado dos experimentos e trabalhos realizados com essa verba\u201d, escreveu. \u201cEsfor\u00e7os adicionais de conformidade continuam\u201d.<\/p>\n

\u201c\u00c9 um padr\u00e3o de desonestidade\u201d, disse Chan, a bi\u00f3loga molecular e autora de \u201cViral\u201d. \u201cDeve ficar claro agora que n\u00e3o podemos aceitar a palavra das partes em conflito na busca pela origem da covid-19\u201d, acrescentou ela. \u201c\u00c9 urgentemente importante que o p\u00fablico e os investigadores tenham pleno acesso a todos os documentos da EcoHealth relacionados \u00e0 pequisa realizada em Wuhan\u201d.<\/p>\n

Tradu\u00e7\u00e3o: Ma\u00edra Santos<\/i><\/p>\n

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Documentos da EcoHealth Alliance contradizem afirma\u00e7\u00f5es anteriores sobre as experi\u00eancias em Wuhan com o v\u00edrus da MERS.<\/p>\n

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