{"id":438780,"date":"2021-12-18T13:00:34","date_gmt":"2021-12-18T13:00:34","guid":{"rendered":"https:\/\/theintercept.com\/?p=381180"},"modified":"2021-12-18T13:00:34","modified_gmt":"2021-12-18T13:00:34","slug":"facebook-lucrou-com-anuncio-da-brasil-paralelo-que-associa-simone-de-beauvoir-a-pedofilia","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/radiofree.asia\/2021\/12\/18\/facebook-lucrou-com-anuncio-da-brasil-paralelo-que-associa-simone-de-beauvoir-a-pedofilia\/","title":{"rendered":"Facebook lucrou com an\u00fancio da Brasil Paralelo que associa Simone de Beauvoir \u00e0 pedofilia"},"content":{"rendered":"

Este texto foi publicado originalmente na newsletter do Intercept. Assine<\/a>. \u00c9 de gra\u00e7a, todos os s\u00e1bados, na sua caixa de e-mails.<\/em><\/p>\n

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No \u00faltimo ano,<\/u> ningu\u00e9m gastou mais em an\u00fancios de temas sociais, elei\u00e7\u00f5es ou de pol\u00edtica no Facebook brasileiro do que a Brasil Paralelo. Em uma agressiva estrat\u00e9gia de rebranding<\/i> e expans\u00e3o, a produtora de conte\u00fado audiovisual conservador e revisionista se tornou a maior fonte de receita nesse tipo de an\u00fancio para a rede social no Brasil. Segundo o Relat\u00f3rio da Biblioteca de An\u00fancios do Facebook<\/a>, uma plataforma da pr\u00f3pria empresa, a Brasil Paralelo gastou mais de R$ 5 milh\u00f5es com an\u00fancios entre agosto de 2020 e dezembro de 2021. Para voc\u00ea ter uma ideia do tamanho da fatia, o segundo maior anunciante, o pr\u00f3prio WhatsApp, desembolsou menos da metade desse valor.<\/p>\n

Um desses an\u00fancios, veiculado em dezembro e dispon\u00edvel biblioteca da empresa, come\u00e7a com a ic\u00f4nica frase da fil\u00f3sofa Simone de Beauvoir: “n\u00e3o se nasce mulher: torna-se mulher”. Ent\u00e3o o texto, que acompanha uma foto dela e de seu companheiro Jean Paul-Sartre, come\u00e7a a se desdobrar no mais puro suco antifeminista, com pitadas de olavismo e teorias da conspira\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

“Ela foi casada com Sartre e, juntos, eles formavam um casal que aliciava os mais jovens. Beauvoir e Sartre viviam juntos, mas tinham amantes”, diz a propaganda. “A bi\u00f3grafa de Beauvoir, C. Seymour-Jones, revelou que Simone gostava at\u00e9 de rela\u00e7\u00f5es entre familiares. Junto de Sartre, defendiam intimidades com crian\u00e7as [de] 11 anos”.<\/p>\n

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Post sobre Simone de Beauvoir foi um dos 29 mil an\u00fancios da Brasil Paralelo no Facebook desde agosto de 2020.<\/p>\n<\/div>\n

O an\u00fancio termina com a chamada para o curso de “feminismo” da professora Ana Campagnolo, deputada estadual por Santa Catarina que fez carreira pol\u00edtica surfando no olavismo antifeminista. No curso, diz a propaganda, Campagnolo, do PSL, “alerta que um dos \u00edcones da causa pelas mulheres, n\u00e3o tinha compaix\u00e3o pelas mulheres” (a v\u00edrgula errada \u00e9 da grafia original).<\/p>\n

De fato, Simone e Sartre tinham uma rela\u00e7\u00e3o afetiva n\u00e3o convencional, com um casamento aberto e bissexualidade. Mas n\u00e3o houve defesa de rela\u00e7\u00f5es com crian\u00e7as. As biografias da fil\u00f3sofa mencionam um relacionamento com uma aluna de 17 anos, bem diferente da situa\u00e7\u00e3o descrita no an\u00fancio.<\/p>\n

N\u00e3o h\u00e1 surpresa aqui: o revisionismo hist\u00f3rico \u00e9 a marca da Brasil Paralelo, que cresce com produ\u00e7\u00f5es que tentam legitimar a agenda conservadora \u2013 apesar de ultimamente estar tentando se descolar<\/a> de Olavo de Carvalho e Jair Bolsonaro.<\/p>\n

O que causa mais estranheza \u00e9 que o Facebook \u2013 que hoje se chama Meta \u2013 esteja lucrando em cima de discurso mentiroso e antifeminista. Apesar da crise provocada pelos Facebook Papers, que mostraram que a rede social sobrep\u00f4s o lucro \u00e0 prote\u00e7\u00e3o dos usu\u00e1rios<\/a>, o discurso de prote\u00e7\u00e3o a minorias e combate a discurso de \u00f3dio sempre esteve presente nos termos de uso e nas respostas que a empresa enviou \u00e0 imprensa.<\/p>\n

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Em seus termos de uso, o Facebook diz proibir an\u00fancios que espalhem desinforma\u00e7\u00e3o e que anunciantes que repetidamente postam informa\u00e7\u00f5es falsas podem ser restringidos ou banidos. Tamb\u00e9m afirma que an\u00fancios n\u00e3o podem discriminar ou encorajar a discrimina\u00e7\u00e3o baseada em atributos pessoais, como g\u00eanero, e tamb\u00e9m n\u00e3o podem ter conte\u00fados que explorem crises ou quest\u00f5es pol\u00edticas e sociais controversas para prop\u00f3sitos comerciais.<\/p>\n

Mas, para o Facebook, ganhar dinheiro associando Beauvoir \u00e0 pedofilia para divulgar um curso antifeminista n\u00e3o \u00e9 um problema. “O an\u00fancio n\u00e3o viola os Padr\u00f5es da Comunidade ou as Pol\u00edticas de An\u00fancios da Meta\u201d, me disse a empresa, por meio de sua assessoria de imprensa. A resposta e a biblioteca de an\u00fancios de seu maior cliente provam que, se o dinheiro for bom, vale at\u00e9 colocar todos esses supostos princ\u00edpios em xeque.<\/p>\n

Guerra cultural em an\u00fancios<\/h3>\n

No total, a Brasil Paralelo veiculou 29.168 an\u00fancios de agosto de 2020 para c\u00e1. Os n\u00fameros da produtora destoam muito dos outros anunciantes. O terceiro maior em gastos, o prefeito de Fortaleza, Jos\u00e9 Sarto, do PDT, veiculou apenas 670 an\u00fancios, totalizando R$ 955 mil. Em quarto lugar, a Acnur, programa da ONU para refugiados, desembolsou R$ 959 mil em 865 an\u00fancios. Quase trinta vezes menos do que a Brasil Paralelo. A produtora \u00e9 uma m\u00e1quina fren\u00e9tica de an\u00fancios conservadores e anticomunistas, quase sempre disfar\u00e7ados de “o que eles n\u00e3o querem que voc\u00ea saiba” \u2013 exatamente o mesmo tom conspirat\u00f3rio que o Facebook sabe muito bem que roda bastante em sua plataforma.<\/p>\n

H\u00e1 an\u00fancios institucionais e dos document\u00e1rios da produtora. Neste ano, por exemplo, eles investiram pesado<\/a> na divulga\u00e7\u00e3o de seu document\u00e1rio revisionista sobre a ditadura militar. Tamb\u00e9m h\u00e1 an\u00fancios que lan\u00e7am d\u00favidas sobre o aquecimento global. Em uma propaganda do document\u00e1rio “Cortina de fuma\u00e7a”, a Brasil Paralelo exibe uma reportagem do Estad\u00e3o sobre mudan\u00e7as clim\u00e1ticas e diz que “cada vez est\u00e1 mais dif\u00edcil saber em quais not\u00edcias confiar”. Ent\u00e3o, divulga o filme, que nega dados de desmatamento e foi financiado por um ruralista.<\/a> O an\u00fancio foi visto por uma audi\u00eancia estimada de 100 mil a 500 mil pessoas.<\/p>\n

Perguntei ao Facebook se o an\u00fancio violaria os seus termos \u2013 que, teoricamente, tamb\u00e9m proibiriam esse tipo de conte\u00fado pago. A resposta da empresa foi a mesma: est\u00e1 tudo bem lucrar com quem lan\u00e7a d\u00favidas sobre o aquecimento global.<\/p>\n

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A produtora \u00e9 a maior anunciante de posts sociais e pol\u00edticos, o que talvez explique o fato do Facebook dizer que o an\u00fancio n\u00e3o viola suas pol\u00edticas.<\/p>\n

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