{"id":464854,"date":"2022-01-11T09:00:33","date_gmt":"2022-01-11T09:00:33","guid":{"rendered":"https:\/\/theintercept.com\/?p=382952"},"modified":"2022-01-11T09:00:33","modified_gmt":"2022-01-11T09:00:33","slug":"canetada-do-ibama-destrava-mina-com-barragens-90-vezes-maiores-que-a-de-brumadinho","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/radiofree.asia\/2022\/01\/11\/canetada-do-ibama-destrava-mina-com-barragens-90-vezes-maiores-que-a-de-brumadinho\/","title":{"rendered":"Canetada do Ibama destrava mina com barragens 90 vezes maiores que a de Brumadinho"},"content":{"rendered":"

U<\/span>ma gigantesca mina de ferro e duas barragens com 90 vezes o volume de rejeitos que soterrou parte de Brumadinho em janeiro de 2019 devem se tornar parte da paisagem do Cerrado do norte de Minas Gerais. Da mina sair\u00e1 uma tubula\u00e7\u00e3o para transporte de min\u00e9rio de 478 quil\u00f4metros de extens\u00e3o que chegar\u00e1 ao litoral da Bahia. Trata-se do empreendimento bilion\u00e1rio de uma empresa chamada Sul Americana de Metais, ou SAM, controlada pela Honbridge Holdings, grupo sediado em Hong Kong, na China, que tamb\u00e9m \u00e9 dono<\/a> de empresas de energia, tecnologia e um aplicativo de transporte.<\/p>\n

O investimento prometido<\/a> \u00e9 de 2,1 bilh\u00f5es de d\u00f3lares\u00a0na extra\u00e7\u00e3o e beneficiamento do min\u00e9rio e 1,4 bilh\u00e3o no mineroduto que ir\u00e1 transport\u00e1-lo \u2013 ou quase R$ 20 bilh\u00f5es, ao todo. \u00c9 o equivalente ao valor original da obra da mega-hidrel\u00e9trica de Belo Monte<\/a> (que acabou custando estimados R$ 40 bilh\u00f5es ao final da obra).<\/p>\n

Por ser considerado ambientalmente invi\u00e1vel, o empreendimento estava parado h\u00e1 quase 10 anos no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renov\u00e1veis, o Ibama. N\u00e3o est\u00e1 mais. Em julho de 2019, Eduardo Bim, presidente da autarquia, assinou um parecer que fez o projeto voltar a andar \u2013 apenas seis meses depois do desastre de Brumadinho.<\/p>\n

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Indicado ao cargo<\/a> pelo ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, Bim delegou ao governo de Minas Gerais o licenciamento ambiental de todo o empreendimento, antes uma atribui\u00e7\u00e3o do \u00f3rg\u00e3o que ele pr\u00f3prio preside. Tamb\u00e9m autorizou que os gestores mineiros fatiassem o projeto em duas partes, o que na pr\u00e1tica d\u00e1 a impress\u00e3o de que os impactos sociais e ambientais ser\u00e3o menores.<\/p>\n

Com isso, Bim aumentou significativamente as chances de que o empreendimento saia do papel, algo que dificilmente ocorreria se ele fosse analisado como uma coisa s\u00f3 pelo Ibama. A decis\u00e3o do presidente de um dos \u00f3rg\u00e3os respons\u00e1veis pela preserva\u00e7\u00e3o<\/a> do meio ambiente brasileiro contrariou todas as recomenda\u00e7\u00f5es dadas pelas pr\u00f3prias equipes t\u00e9cnicas, formadas por servidores de carreira.<\/p>\n

Os t\u00e9cnicos do Ibama j\u00e1 haviam alertado<\/a> que o empreendimento iria for\u00e7ar a remo\u00e7\u00e3o de comunidades tradicionais e a supress\u00e3o de cerca de 70 nascentes d’\u00e1gua numa regi\u00e3o em que costuma chover pouco. Al\u00e9m disso, tamb\u00e9m prejudicaria reservas subterr\u00e2neas de \u00e1gua, tecnicamente chamadas de aqu\u00edferos, por excesso de demanda.<\/p>\n