{"id":482330,"date":"2022-01-24T12:00:02","date_gmt":"2022-01-24T12:00:02","guid":{"rendered":"https:\/\/theintercept.com\/?p=384156"},"modified":"2022-01-24T12:00:02","modified_gmt":"2022-01-24T12:00:02","slug":"projeto-rejeitado-nos-eua-revela-pesquisa-de-alto-risco-com-coronavirus-em-2018","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/radiofree.asia\/2022\/01\/24\/projeto-rejeitado-nos-eua-revela-pesquisa-de-alto-risco-com-coronavirus-em-2018\/","title":{"rendered":"Projeto rejeitado nos EUA revela pesquisa de alto risco com coronav\u00edrus em 2018"},"content":{"rendered":"

UMA PROPOSTA DE FINANCIAMENTO<\/u> redigida<\/a> pela EcoHealth Alliance, uma organiza\u00e7\u00e3o sem fins lucrativos com sede nos Estados Unidos, enviada em 2018 \u00e0 Ag\u00eancia de Projetos de Pesquisa Avan\u00e7ada de Defesa, ou DARPA, traz evid\u00eancias de que o grupo trabalhava \u2014 ou pelo menos planejava trabalhar \u2014 em diversas \u00e1reas de pesquisa de alto risco. Entre as tarefas cient\u00edficas que o grupo descreveu na proposta, que foi rejeitada pela DARPA, estava a cria\u00e7\u00e3o de c\u00f3pias infecciosas completos de coronav\u00edrus de morcego ligados \u00e0 SARS, e a inser\u00e7\u00e3o de uma pequena parte do v\u00edrus conhecido como \u201clocal de clivagem proteol\u00edtica\u201d nos coronav\u00edrus de morcego. O destaque fica por conta de um tipo de \u201clocal de clivagem\u201d capaz de interagir com furina, uma enzima expressa em c\u00e9lulas humanas.<\/p>\n

A EcoHealth Alliance n\u00e3o respondeu \u00e0s perguntas sobre o documento, apesar de ter respondido a perguntas anteriores do Intercept<\/b> em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 pesquisa do grupo sobre coronav\u00edrus, financiada pelo governo americano. O presidente do grupo, Peter Daszak, reconheceu a discuss\u00e3o p\u00fablica de uma proposta n\u00e3o financiada da EcoHealth em um tweet<\/a> no s\u00e1bado. Ele n\u00e3o negou a autenticidade da proposta.<\/p>\n

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Desde que o c\u00f3digo gen\u00e9tico do coronav\u00edrus que causou a pandemia foi sequenciado pela primeira vez, os cientistas ficaram intrigados com o \u201clocal de clivagem da furina\u201d. Essa estranha caracter\u00edstica na prote\u00edna spike (ou esp\u00edcula) do v\u00edrus nunca havia sido vista em betacoronav\u00edrus relacionados \u00e0 SARS, a classe \u00e0 qual pertence o SARS-CoV-2, o tipo de coronav\u00edrus que causa a doen\u00e7a respirat\u00f3ria covid-19.<\/p>\n

O local de clivagem da furina permite que o v\u00edrus se ligue e libere de forma mais eficiente seu material gen\u00e9tico dentro da c\u00e9lula humana, e \u00e9 uma das raz\u00f5es pelas quais o v\u00edrus \u00e9 t\u00e3o transmiss\u00edvel e nocivo. Mas os cientistas est\u00e3o divididos em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 forma como esse local espec\u00edfico acabou no v\u00edrus, e o local de clivagem se tornou o foco principal de um acalorado debate sobre as origens da pandemia.<\/p>\n

Muitos dos que acreditam que o v\u00edrus que causou a pandemia surgiu de um laborat\u00f3rio apontam que \u00e9 improv\u00e1vel que a sequ\u00eancia espec\u00edfica de amino\u00e1cidos que comp\u00f5em o local de clivagem da furina tenha ocorrido de forma natural.<\/p>\n

Os defensores da ideia de que o SARS-CoV-2 surgiu de um “transbordamento” natural vindo de hospedeiros animais, dizem que o v\u00edrus pode ter evolu\u00eddo naturalmente de outro v\u00edrus ainda n\u00e3o descoberto. Eles tamb\u00e9m argumentam que \u00e9 improv\u00e1vel que os cientistas tenham criado tal varia\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

\u201cN\u00e3o h\u00e1 nenhuma raz\u00e3o l\u00f3gica para que um v\u00edrus criado utilize um local de clivagem de furina t\u00e3o inferior ao ideal, o que exigiria uma fa\u00e7anha de engenharia gen\u00e9tica incomum e de complexidade desnecess\u00e1ria\u201d, escreveram 23 cientistas no in\u00edcio deste m\u00eas em um artigo<\/a> na revista Cell. \u201cN\u00e3o h\u00e1 evid\u00eancias de pesquisas anteriores no [Instituto de Virologia de Wuhan] envolvendo a inser\u00e7\u00e3o artificial de locais completos de clivagem de furina em coronav\u00edrus.\u201d<\/p>\n

Mas a proposta descreve o processo de busca por novos locais de clivagem de furina nas amostras de coronav\u00edrus de morcego coletada pelos cientistas, e sua inser\u00e7\u00e3o nos spikes de v\u00edrus relacionados \u00e0 SARS feita no laborat\u00f3rio.<\/p>\n

\u201cVamos introduzir locais de clivagem apropriados espec\u00edficos para humanos e avaliar o potencial de crescimento em [um tipo de c\u00e9lula de mam\u00edfero geralmente usado em microbiologia] e culturas de HAE\u201d, nome dado \u00e0s c\u00e9lulas encontradas no revestimento das vias a\u00e9reas humanas, afirma a proposta.<\/p>\n

A nova proposta, que tamb\u00e9m descreve um plano de vacina\u00e7\u00e3o em massa de morcegos em cavernas, n\u00e3o traz evid\u00eancias conclusivas de que o v\u00edrus que causou a pandemia tenha surgido de um laborat\u00f3rio. Especialistas em v\u00edrus permanecem bastante divididos sobre suas origens. Mas v\u00e1rios cientistas que trabalham com coronav\u00edrus disseram ao Intercept que a proposta pode ter mudado o cen\u00e1rio do debate.<\/p>\n\n <\/iframe>\n \n

Inclinando a Balan\u00e7a<\/h3>\n

\u201cAlgum tipo de limite foi ultrapassado\u201d, disse Alina Chan, cientista de Boston e coautora do livro \u201cViral: The Search for the Origin of Covid-19\u201d (Viral: a busca pela origem da covid-19, ainda n\u00e3o lan\u00e7ado). Chan tem se pronunciado sobre a necessidade de uma investiga\u00e7\u00e3o minuciosa sobre a possibilidade de que o SARS-CoV-2 tenha surgido de um laborat\u00f3rio, embora se mantenha aberta \u00e0s demais teorias poss\u00edveis acerca de seu desenvolvimento. Para Chan, a novidade revelada pela proposta foi que a descri\u00e7\u00e3o da inser\u00e7\u00e3o de um novo local de clivagem de furina em coronav\u00edrus de morcego \u2014 algo que as pessoas especulavam anteriormente, mas n\u00e3o tinham evid\u00eancias \u2013 pode realmente ter acontecido.<\/p>\n

\u201cOlhando por um ponto de vista mais amplo: um novo coronav\u00edrus do tipo SARS surge em Wuhan com um novo local de clivagem. Agora temos evid\u00eancias de que, no in\u00edcio de 2018, houve a proposta de inser\u00e7\u00e3o de novos locais de clivagem em novos v\u00edrus relacionados \u00e0 SARS em seu laborat\u00f3rio\u201d, disse Chan. \u201cIsso com certeza inclina a balan\u00e7a para um lado, a meu ver. E acho que para muitos outros cientistas tamb\u00e9m.\u201d<\/p>\n

Richard Ebright, bi\u00f3logo molecular da Universidade Rutgers que defende a possibilidade de que o SARS-CoV-2 possa ter sido originado em um laborat\u00f3rio, concorda. \u201cA relev\u00e2ncia disso \u00e9 que o SARS Cov-2, o v\u00edrus pand\u00eamico, \u00e9 o \u00fanico v\u00edrus em todo o g\u00eanero de coronav\u00edrus relacionado \u00e0 SARS que cont\u00e9m um local de clivagem totalmente funcional na jun\u00e7\u00e3o S1, S2\u201d, disse Ebright, referindo-se ao local onde duas subunidades da prote\u00edna spike se encontram. \u201cE agora temos uma proposta do in\u00edcio de 2018, propondo explicitamente a engenharia dessa sequ\u00eancia nessa posi\u00e7\u00e3o em coronav\u00edrus quim\u00e9ricos gerados em laborat\u00f3rio.\u201d<\/p>\n

‘Uma poss\u00edvel cadeia de transmiss\u00e3o agora tem uma l\u00f3gica consistente \u2013 o que n\u00e3o existia antes de eu ler a proposta’.<\/blockquote>\n

Martin Wikelski, diretor do Instituto Max Planck de Comportamento Animal na Alemanha, cujo trabalho de rastreamento de morcegos e outros animais foi mencionado sem seu conhecimento no pedido de financiamento, tamb\u00e9m diz que isso o deixou mais aberto \u00e0 ideia de que a pandemia pode ter suas ra\u00edzes em um laborat\u00f3rio. \u201cAs informa\u00e7\u00f5es da proposta com certeza mudam meus pensamentos sobre uma poss\u00edvel origem do SARS-CoV-2\u201d, disse Wikelski ao The Intercept. \u201cNa verdade, uma poss\u00edvel cadeia de transmiss\u00e3o agora tem uma l\u00f3gica consistente \u2013 o que n\u00e3o existia antes de eu ler a proposta.\u201d<\/p>\n

Mas h\u00e1 quem defenda que a pesquisa representava pouco ou nenhum risco, apontando que a proposta exigia que a maior parte do trabalho de engenharia gen\u00e9tica fosse feito na Carolina do Norte, e n\u00e3o na China. \u201cDado que o trabalho n\u00e3o foi financiado e n\u00e3o foi proposto para ser feito em Wuhan, \u00e9 dif\u00edcil avaliar qualquer influ\u00eancia sobre a origem do SARS-CoV-2\u201d, Stephen Goldstein, cientista que estuda a evolu\u00e7\u00e3o dos genes virais na Universidade de Utah, e autor do recente artigo na revista Cell, comentou em um e-mail para o Intercept.<\/p>\n

Outros cientistas contatados pelo Intercept observaram que h\u00e1 evid\u00eancias publicadas de que o Instituto de Virologia de Wuhan j\u00e1 estava envolvido em alguns dos trabalhos de engenharia gen\u00e9tica descritos na proposta, e que os v\u00edrus projetados na Carolina do Norte poderiam ser facilmente usados ??na China. \u201c\u00c9 parte da rotina dos cientistas enviar uns aos outros por correspond\u00eancia diversos pequenos envelopes com plasm\u00eddeo seco em papel de filtro\u201d, disse Jack Nunberg, diretor do Centro de Biotecnologia da Universidade de Montana.<\/p>\n

Vincent Racaniello, professor de microbiologia e imunologia da Universidade de Columbia, foi categ\u00f3rico ao afirmar que a proposta n\u00e3o mudava sua opini\u00e3o de que a pandemia foi causada por um transbordamento natural de animais para humanos. “N\u00e3o h\u00e1 dados para apoiar uma ‘ideia’ de origem em laborat\u00f3rio”, escreveu Racaniello em um e-mail. Ele disse acreditar que a pesquisa proposta tinha o potencial de se enquadrar na categoria de pesquisa de ganho de fun\u00e7\u00e3o, assim como um experimento detalhado em outra proposta de financiamento<\/a> obtida pelo Intercept em 2021. O governo financia essas pesquisas, nas quais os cientistas intencionalmente tornam os v\u00edrus mais patog\u00eanicos ou transmiss\u00edveis para estud\u00e1-los, apenas em circunst\u00e2ncias espec\u00edficas<\/a>. E a DARPA rejeitou a proposta, pelo menos em parte, devido a preocupa\u00e7\u00f5es de que ela envolvesse tal tipo de pesquisa.<\/p>\n

Embora Racaniello reconhe\u00e7a que a pesquisa na proposta da DARPA envolve algum perigo, ele disse que \u201cos benef\u00edcios superam em muito os riscos\u201d. Ele tamb\u00e9m disse que o fato de os v\u00edrus descritos na proposta n\u00e3o serem pat\u00f3genos conhecidos diminui sua preocupa\u00e7\u00e3o. \u201cIsso n\u00e3o \u00e9 SARS\u201d, disse ele, referindo-se ao SARS-CoV-1, o v\u00edrus que causou um surto de 2003. \u201c\u00c9 relacionado \u00e0 SARS.\u201d<\/p>\n

Mas o SARS-CoV-2 n\u00e3o \u00e9 um descendente direto desse v\u00edrus \u2014 \u00e9 um parente.<\/p>\n

Na verdade, os v\u00edrus descritos na proposta de concess\u00e3o, que foi postada pela primeira vez online pelo grupo de pesquisa DRASTIC<\/a>, n\u00e3o eram de pat\u00f3genos conhecidos. E os autores da proposta de financiamento defendem que, como os cientistas usariam v\u00edrus de morcego relacionados \u00e0 SARS, e n\u00e3o o v\u00edrus da SARS que infecta humanos, a pesquisa estava livre das \u201cpreocupa\u00e7\u00f5es com o ganho de fun\u00e7\u00e3o\u201d. Mas, de acordo com v\u00e1rios cientistas entrevistados pelo Intercept, os v\u00edrus representam uma amea\u00e7a.<\/p>\n

\u201cO trabalho descreve a gera\u00e7\u00e3o de coronav\u00edrus completos relacionados \u00e0 SARS de morcego que, se acredita, possuem um risco de transbordamento humano. E esse \u00e9 o tipo de trabalho que permite \u00e0s pessoas defender, de forma plaus\u00edvel, que poderia ter levado a uma origem laboratorial do SARS-CoV-2\u201d, disse Jesse Bloom, professor do Centro de Pesquisa em C\u00e2ncer Fred Hutchinson e diretor do Bloom Lab, que estuda o evolu\u00e7\u00e3o dos v\u00edrus. Bloom aponta que os cientistas reconhecem o risco para os humanos em sua proposta. \u201c\u00c9 um objetivo expl\u00edcito da proposta de financiamento identificar os coronav\u00edrus relacionados \u00e0 SARS de morcego que eles acham que representam o maior risco.\u201d<\/p>\n

Stuart Newman, professor de biologia celular que dirige o laborat\u00f3rio de biologia do desenvolvimento do New York Medical College, tamb\u00e9m disse que o fato de os v\u00edrus n\u00e3o serem conhecidos por serem perigosos n\u00e3o exclui a possibilidade de se tornarem perigosos. \u201cIsso \u00e9 bastante enganoso\u201d, disse Newman sobre esse argumento. \u201cAs pessoas que defendem o surgimento natural dizem que tudo come\u00e7ou com um v\u00edrus de morcego que evoluiu para ser compat\u00edvel com humanos. Se voc\u00ea usar essa l\u00f3gica, esse v\u00edrus pode ser uma amea\u00e7a porque tamb\u00e9m pode fazer essa transi\u00e7\u00e3o.\u201d Newman, um cr\u00edtico de longa data da pesquisa de ganho de fun\u00e7\u00e3o e fundador do Conselho de Gen\u00e9tica Respons\u00e1vel, disse que a proposta confirmou alguns de seus piores medos. \u201cIsso n\u00e3o \u00e9 passar um pouco dos limites\u201d, disse Newman. \u201cIsso \u00e9 fazer tudo o que as pessoas dizem ser capaz de provocar uma pandemia.\u201d<\/p>\n

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Embora a proposta de financiamento n\u00e3o forne\u00e7a a prova cabal de que o SARS-CoV-2 escapou de um laborat\u00f3rio, para alguns cientistas ela aumenta as evid\u00eancias de que isso possa ter acontecido. \u201cSe esse estudo espec\u00edfico levou ou n\u00e3o [\u00e0 pandemia], certamente poderia ter levado\u201d, disse Nunberg, do Centro de Biotecnologia de Montana. \u201cUma vez que voc\u00ea cria um v\u00edrus n\u00e3o natural, voc\u00ea est\u00e1 basicamente colocando ele em um ambiente evolucion\u00e1rio inst\u00e1vel. O v\u00edrus vai passar por um monte de mudan\u00e7as para tentar lidar com suas imperfei\u00e7\u00f5es. Ent\u00e3o, quem sabe o que pode acontecer.\u201d Os riscos de tal pesquisa s\u00e3o profundos e irrevers\u00edveis, disse ele. \u201cN\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel chamar o v\u00edrus\u00a0 de volta depois de libert\u00e1-lo no ambiente.\u201d<\/p>\n

A DARPA, uma divis\u00e3o do Departamento de Defesa, disse que a legisla\u00e7\u00e3o a impedia de confirmar que a proposta foi avaliada. \u201cComo a EcoHealth Alliance pode ou n\u00e3o ser a fonte direta do material em quest\u00e3o, e estamos impedidos pelos Regulamentos Federais de Aquisi\u00e7\u00e3o de divulgar os licitantes ou quaisquer detalhes da proposta associada, recomendamos que voc\u00ea entre em contato com eles para confirmar a autenticidade do documento\u201d, um porta-voz da DARPA escreveu em um e-mail para o Intercept. O jornal British Daily Telegraph informou que confirmou a legitimidade do documento com um ex-membro do governo Trump.<\/p>\n

A mat\u00e9ria do Telegraph indicou de forma equivocada que os cientistas propuseram inocular morcegos com v\u00edrus vivos<\/i>. Na verdade, eles queriam inocul\u00e1-los com prote\u00ednas S quim\u00e9ricas, que tinham proposta de serem desenvolvidas por meio de um subcontrato no laborat\u00f3rio de Ralph Baric na Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, n\u00e3o em Wuhan. Baric n\u00e3o respondeu ao pedido por coment\u00e1rios feito pelo Intercept.<\/p>\n

Conflito de Interesses<\/h3>\n

Muitas d\u00favidas sobre a proposta continuam, inclusive se alguma das pesquisas nela descritas chegou a ser conclu\u00edda. Mesmo sem o financiamento da DARPA, havia muitas outras maneiras poss\u00edveis de pagar pelos experimentos. E os cientistas entrevistados para este artigo concordam que, muitas vezes, os pesquisadores colocam em pr\u00e1tica parte dos experimentos que descrevem nas propostas, antes ou depois de envi\u00e1-las.<\/p>\n

\u201cTrata-se de um grupo de pesquisadores altamente financiados, que n\u00e3o deixaria uma rejei\u00e7\u00e3o interromper seu trabalho\u201d, disse Chan, autora de \u201cViral\u201d.<\/p>\n

Talvez a quest\u00e3o mais preocupante sobre a proposta seja por que, dentro do pequeno grupo de cientistas que busca informa\u00e7\u00f5es que possam esclarecer as origens da pandemia, aparentemente, at\u00e9 agora, havia t\u00e3o pouco conhecimento acerca do trabalho planejado. Peter Daszak e Linfa Wang, dois dos pesquisadores que enviaram a proposta, at\u00e9 ent\u00e3o n\u00e3o reconheciam sua exist\u00eancia.<\/p>\n

Daszak, presidente da EcoHealth Alliance, trabalhou para acabar com o interesse na ideia de que o novo coronav\u00edrus foi originado em um laborat\u00f3rio. Em fevereiro de 2020, quando a pandemia come\u00e7ou a atingir as principais cidades dos Estados Unidos, ele come\u00e7ou a organizar cientistas para escrever uma carta aberta<\/a>, que foi publicada no Lancet, abordando as origens do v\u00edrus. \u201cO compartilhamento r\u00e1pido, aberto e transparente de dados sobre esse surto agora est\u00e1 sendo amea\u00e7ado por rumores e desinforma\u00e7\u00e3o sobre suas origens\u201d, dizia o comunicado assinado por Daszak e 26 coautores. \u201cEstamos juntos para condenar fortemente as teorias da conspira\u00e7\u00e3o que sugerem que a covid-19 n\u00e3o tem uma origem natural.\u201d<\/p>\n

Daszak orientou e reuniu assinaturas para a carta, sempre sugerindo que ele e seus colaboradores no projeto proposto \u00e0 DARPA, Baric e Wang, se distanciassem de tal esfor\u00e7o.<\/p>\n

\u201cFalei com Linfa [Wang] ontem \u00e0 noite sobre a declara\u00e7\u00e3o que enviamos. Ele pensa, e eu concordo com ele, que voc\u00ea, eu e ele n\u00e3o devemos assinar esta declara\u00e7\u00e3o, para mantermos dist\u00e2ncia e, assim, ela n\u00e3o se volte contra n\u00f3s\u201d, escreveu Daszak a Baric em fevereiro de 2020, algumas semanas antes de aparecer na revista, de acordo com um email<\/a> que veio \u00e0 tona um ano depois pelo grupo de pesquisa investigativa de sa\u00fade p\u00fablica US Right to Know. \u201cVamos public\u00e1-lo de uma maneira que n\u00e3o fique vinculado \u00e0 nossa colabora\u00e7\u00e3o, para que seja ao m\u00e1ximo uma voz independente.\u201d Por fim, Daszak assinou a carta.<\/p>\n

\u201cTamb\u00e9m acho que esta \u00e9 uma boa decis\u00e3o\u201d, respondeu Baric. \u201cCaso contr\u00e1rio, parece interesse pr\u00f3prio e perdemos impacto.\u201d<\/p>\n

Baric e Wang \u2013 professor do programa de doen\u00e7as infecciosas da Escola M\u00e9dica Duke-NUS, em Cingapura \u2013 n\u00e3o responderam \u00e0s perguntas do Intercept sobre sua decis\u00e3o de n\u00e3o assinar a carta no Lancet.<\/p>\n

Daszak tamb\u00e9m foi membro da equipe conjunta que a Organiza\u00e7\u00e3o Mundial da Sa\u00fade enviou \u00e0 China em fevereiro de 2020 para investigar as origens da pandemia, que concluiu que era \u201cextremamente improv\u00e1vel\u201d que o v\u00edrus tivesse sido liberado de um laborat\u00f3rio (em mar\u00e7o de 2021, a OMS convocou<\/a> uma investiga\u00e7\u00e3o mais aprofundada das origens do v\u00edrus e afirmou que \u201ctodas as hip\u00f3teses permanecem em aberto\u201d).<\/p>\n

\u201cAcho muito decepcionante que um dos membros da equipe conjunta OMS-China, que \u00e9 essencialmente o grupo de cientistas encarregados como representantes da comunidade cient\u00edfica e da Organiza\u00e7\u00e3o Mundial da Sa\u00fade para investigar isso, tenha mesmo essa proposta, sabia que essa linha de pesquisa estava pelo menos sendo considerada, e n\u00e3o mencionou nada\u201d, disse Bloom, da Fred Hutch. \u201cQualquer informa\u00e7\u00e3o relacionada a ajudar as pessoas a pensar sobre o assunto precisa ser disponibilizada e explicada de forma transparente.\u201d<\/p>\n

Tradu\u00e7\u00e3o: Antenor Savoldi Jr.<\/i><\/p>\n

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A proposta, recusada pela ag\u00eancia de pesquisa militar dos EUA, descreve a inser\u00e7\u00e3o de mudan\u00e7as no coronav\u00edrus de morcego, que poderia passar a interagir com uma enzima de c\u00e9lulas humanas.<\/p>\n

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