{"id":51647,"date":"2021-02-24T09:30:15","date_gmt":"2021-02-24T09:30:15","guid":{"rendered":"https:\/\/theintercept.com\/?p=345861"},"modified":"2021-02-24T09:30:15","modified_gmt":"2021-02-24T09:30:15","slug":"doleiro-dos-doleiros-mudou-delacao-para-inocentar-procurador-da-lava-jato-a-quem-dizia-pagar-propina","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/radiofree.asia\/2021\/02\/24\/doleiro-dos-doleiros-mudou-delacao-para-inocentar-procurador-da-lava-jato-a-quem-dizia-pagar-propina\/","title":{"rendered":"\u2018Doleiro dos doleiros\u2019 mudou dela\u00e7\u00e3o para inocentar procurador da Lava Jato a quem dizia pagar propina"},"content":{"rendered":"
O<\/span> doleiro Dario Messer mudou sua vers\u00e3o sobre o alegado pagamento de propina ao procurador Janu\u00e1rio Paludo, ex-integrante da for\u00e7a-tarefa da Lava Jato no Paran\u00e1, ap\u00f3s conseguir uma dela\u00e7\u00e3o premiada que o livrou temporariamente da cadeia e lhe garantiu ao menos R$ 10 milh\u00f5es em bens, segundo conta do pr\u00f3prio Minist\u00e9rio P\u00fablico Federal.<\/p>\n A suspeita de que Paludo recebeu propina para proteger Messer a partir de 2005, no caso Banestado, est\u00e1 na primeira proposta de dela\u00e7\u00e3o premiada do doleiro. A colabora\u00e7\u00e3o dele foi assinada pela Lava Jato e homologada pela justi\u00e7a \u2013 mas sem o trecho que levanta suspeitas contra um dos principais integrantes da for\u00e7a-tarefa paranaense.<\/p>\n O caso Banestado investigou o envio de dinheiro do Brasil para contas no exterior usando contas no hoje extinto banco estatal paranaense. Como na Lava Jato, uma for\u00e7a-tarefa foi criada no MPF do Paran\u00e1 para apurar e processar envolvidos. Paludo fez parte do grupo, assim como Deltan Dallagnol.<\/p>\n Messer foi um dos investigados, mas nunca foi punido. Na primeira vers\u00e3o de sua dela\u00e7\u00e3o, ele disse que escapou dos investigadores gra\u00e7as a propinas. Depois, com os benef\u00edcios do acordo de dela\u00e7\u00e3o garantidos, disse ter se enganado a respeito de Paludo.<\/p>\n Gra\u00e7as \u00e0 dela\u00e7\u00e3o, Messer manteve R$ 3,5 milh\u00f5es que tinha numa conta nas Bahamas, um apartamento avaliado em R$ 3 milh\u00f5es no Rio, desbloqueou a heran\u00e7a da m\u00e3e e ainda deixou a pris\u00e3o. Atualmente, ele cumpre pris\u00e3o domiciliar em Copacabana, bairro nobre da capital fluminense.<\/p>\n J\u00e1 a suspeita contra Paludo jamais foi investigada pelos colegas dele no MPF. Para a c\u00fapula do \u00f3rg\u00e3o, bastou a explica\u00e7\u00e3o do procurador. Mas ela contradiz o que o pr\u00f3prio Paludo disse \u00e0 justi\u00e7a, anos antes, e em conversas mantidas com colegas pelo Telegram, a respeito do doleiro.<\/p>\n A equipe da Lava Jato na Procuradoria Geral da Rep\u00fablica, a PGR, arquivou o relato de Messer sobre os alegados pagamentos a Paludo sem investig\u00e1-lo, por consider\u00e1-lo inconsistente. J\u00e1 a segunda vers\u00e3o contada pelo doleiro sobre o caso, tomada como verdade pelos procuradores, baseou uma den\u00fancia encaminhada pela for\u00e7a-tarefa da Lava Jato do Rio \u00e0 justi\u00e7a em dezembro passado.<\/p>\n Em vez de pagador de propinas, a den\u00fancia transformou Messer em v\u00edtima de um esquema de extors\u00e3o criado por seu ex-advogado e seu ex-s\u00f3cio, que vendiam ao doleiro uma “prote\u00e7\u00e3o” que jamais existiu quando disseram pagar propina a Paludo. O advogado \u00e9 Antonio Figueiredo Basto, negociador de v\u00e1rias dela\u00e7\u00f5es com Curitiba \u2013\u00a0entre elas, a do tamb\u00e9m doleiro Alberto Youssef, crucial para o desenrolar da Lava Jato.<\/p>\n Messer atualmente \u00e9 conhecido como o \u201cdoleiro dos doleiros\u201d, gra\u00e7as \u00e0 Lava Jato do Rio. Ele \u00e9 acusado pela for\u00e7a-tarefa de liderar uma rede ilegal de c\u00e2mbio que movimentou mais de 1,6 bilh\u00e3o de d\u00f3lares entre 2011 e 2017 \u2013\u00a0R$ 8,5 bilh\u00f5es, na cota\u00e7\u00e3o atual. Trata-se, segundo a for\u00e7a-tarefa, de uma quantia in\u00e9dita.<\/p>\n Mas a atua\u00e7\u00e3o dele \u00e9 mapeada pelas autoridades desde 1980, quando j\u00e1 era investigado<\/a> pela suspeita de atuar em esquemas de lavagem de dinheiro. Primeiro, para bicheiros ligados a escolas de samba. Depois, no caso Banestado, que teve como personagens o ent\u00e3o juiz Sergio Moro, Paludo e outros procuradores da Lava Jato. Mais tarde, ele apareceu no mensal\u00e3o petista e foi citado at\u00e9 em documentos do Swissleaks, que revelou uma rede de evas\u00e3o fiscal existente numa ag\u00eancia do HSBC na Su\u00ed\u00e7a em 2006 e 2007.<\/p>\n Messer, no entanto, jamais havia sido preso at\u00e9 julho de 2019. N\u00e3o que as autoridades n\u00e3o tenham tentado. Ao menos duas vezes, a justi\u00e7a brasileira decretou sua pris\u00e3o. Mas o “doleiro dos doleiros” sempre arrumou um jeito de escapar antes que a pol\u00edcia tivesse tempo de encontr\u00e1-lo.<\/p>\n Na cadeia \u2013\u00a0e tentando sair dela o quanto antes \u2013, Messer resolveu confessar crimes. Na proposta de dela\u00e7\u00e3o, ele assumiu a investigadores da Lava Jato que s\u00f3 n\u00e3o foi detido por ordem da opera\u00e7\u00e3o, em 2018, porque soube com anteced\u00eancia da a\u00e7\u00e3o policial para peg\u00e1-lo<\/a>. Tamb\u00e9m confessou ter cometido os crimes investigados no caso Banestado<\/a>, pelos quais n\u00e3o havia sido punido. E, num relato espec\u00edfico, explicou como acredita ter se livrado de suspeitas que pairavam sobre ele desde 2005.<\/p>\n \u00c9 justamente nesse relato que Messer conta que nada disso foi por acaso. \u201cDario sempre acreditou na efetividade da compra da \u2018prote\u00e7\u00e3o\u2019\u201d, resumiram seus defensores na primeira proposta de dela\u00e7\u00e3o. Em outras palavras, ele afirmou ter comprado prote\u00e7\u00e3o do Minist\u00e9rio P\u00fablico Federal do Paran\u00e1, e que parte dos pagamentos eram feitos a Paludo, um dos procuradores do caso Banestado.<\/p>\n Messer relatou que, de 2005 a 2013, pagou 50 mil d\u00f3lares todo m\u00eas para que fosse blindado em investiga\u00e7\u00f5es. Disse que entregava o dinheiro ao ex-s\u00f3cio Enrico Machado e a Figueiredo Basto, na \u00e9poca seu advogado.<\/p>\n Segundo o relato redigido pela defesa de Messer, Machado e Basto diziam que parte desse dinheiro era entregue a Paludo. Messer admitiu que nunca esteve com o procurador, mas afirmou acreditar que contava com a ajuda dele. E apontou dois fatos que o fizeram acreditar em tal prote\u00e7\u00e3o.<\/p>\nNa mira desde os anos 1980, Messer s\u00f3 foi preso em 2019<\/h3>\n