{"id":551059,"date":"2022-03-11T06:00:33","date_gmt":"2022-03-11T06:00:33","guid":{"rendered":"https:\/\/theintercept.com\/?p=389621"},"modified":"2022-03-11T06:00:33","modified_gmt":"2022-03-11T06:00:33","slug":"a-guerra-na-ucrania-nos-obriga-a-pensar-no-futuro-dos-combustiveis-fosseis","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/radiofree.asia\/2022\/03\/11\/a-guerra-na-ucrania-nos-obriga-a-pensar-no-futuro-dos-combustiveis-fosseis\/","title":{"rendered":"A guerra na Ucr\u00e2nia nos obriga a pensar no futuro dos combust\u00edveis f\u00f3sseis"},"content":{"rendered":"
\n\"header-toxicempire\"\n

Um bon\u00e9 de beisebol com o slogan \u201cMake America Great Again\u201d, de Donald Trump, sobre o joelho de um participante do evento \u201cCom\u00edcio para proteger nossas elei\u00e7\u00f5es\u201d em Phoenix, em 24 de julho de 2021.<\/p>\n

\nFoto: Brandon Bell\/Getty Images<\/p><\/div>\n

UMA NOSTALGIA DE IMP\u00c9RIO<\/u> parece mobilizar<\/a> Vladimir Putin \u2013 isso e um desejo de superar a vergonha da terapia de choque econ\u00f4mico-punitiva imposta \u00e0 R\u00fassia ao final da Guerra Fria. Uma nostalgia de \u201cgrandeza\u201d norte-americana \u00e9 parte do que mobiliza o movimento ainda liderado por Donald Trump \u2013 isso e um desejo de superar a vergonha de encarar a vilania do supremacismo branco que moldou a funda\u00e7\u00e3o dos Estados Unidos e ainda mutila o pa\u00eds. Uma nostalgia tamb\u00e9m mobilizou os caminhoneiros canadenses que ocuparam Ottawa por quase um m\u00eas, empunhando suas bandeiras vermelhas e brancas como um ex\u00e9rcito conquistador, evocando tempos mais simples, quando suas consci\u00eancias n\u00e3o eram incomodadas por pensamentos sobre corpos de crian\u00e7as ind\u00edgenas, cujos restos ainda<\/a> est\u00e3o sendo descobertos nos terrenos<\/a> de institui\u00e7\u00f5es genocidas que j\u00e1 ousaram se chamar de \u201cescolas\u201d.<\/p>\n

N\u00e3o se trata de uma nostalgia calorosa e acolhedora de lembran\u00e7as remotas dos prazeres da inf\u00e2ncia. \u00c9 uma nostalgia furiosa e aniquiladora que se apega a falsas mem\u00f3rias de gl\u00f3rias passadas contra todas as evid\u00eancias que as mitigam.<\/p>\n

Todos esses movimentos e figuras mobilizados por nostalgias compartilham um anseio por outra coisa \u2013 que est\u00e1 relacionada a eles, embora possa parecer que n\u00e3o. Uma nostalgia por uma \u00e9poca em que os combust\u00edveis f\u00f3sseis podiam ser extra\u00eddos da terra sem pensamentos inc\u00f4modos sobre extin\u00e7\u00e3o em massa, sem crian\u00e7as exigindo o direito a um futuro e sem relat\u00f3rios do Painel Intergovernamental sobre Mudan\u00e7as Clim\u00e1ticas (IPCC), como o publicado<\/a> no fim de fevereiro \u2013 e que pode ser lido, nas palavras<\/a> do secret\u00e1rio-geral da ONU, Ant\u00f3nio Guterres, como um \u201catlas do sofrimento humano e uma acusa\u00e7\u00e3o de lideran\u00e7a clim\u00e1tica fracassada\u201d. Putin, \u00e9 claro, lidera um petroestado que, de forma desafiadora, se recusou a diversificar sua depend\u00eancia econ\u00f4mica em rela\u00e7\u00e3o ao petr\u00f3leo e ao g\u00e1s, apesar do efeito montanha-russa devastador das commodities sobre seu povo e da realidade das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas. Trump \u00e9 um obcecado<\/a> pelo dinheiro f\u00e1cil que os combust\u00edveis f\u00f3sseis<\/a> oferecem e, como presidente, fez do negacionismo clim\u00e1tico<\/a> uma pol\u00edtica de desregulamenta\u00e7\u00e3o que \u00e9 sua marca registrada<\/a>.<\/p>\n

Os caminhoneiros canadenses, por sua vez, n\u00e3o apenas escolheram paralisa\u00e7\u00f5es com ve\u00edculos de nove eixos e gal\u00f5es de combust\u00edvel<\/a> \u00a0contrabandeados como s\u00edmbolos de protesto. A lideran\u00e7a do movimento tamb\u00e9m est\u00e1 profundamente enraizada no \u00f3leo extra-sujo das areias betuminosas de Alberta. Em 2019, antes de formarem o que hoje chamam de \u201cComboio da Liberdade\u201d, muitos desses mesmos atores encenaram o ensaio geral conhecido como United We Roll<\/a>, outro comboio, que mesclava uma defesa zelosa dos oleodutos, oposi\u00e7\u00e3o \u00e0 precifica\u00e7\u00e3o do carbono, xenofobia anti-imigra\u00e7\u00e3o e nostalgia expl\u00edcita por um Canad\u00e1 crist\u00e3o e branco.<\/p>\n

‘O petr\u00f3leo \u00e9 um substituto para uma vis\u00e3o de mundo mais ampla’.<\/blockquote>\n

Embora os petrod\u00f3lares financiem esses atores e for\u00e7as, \u00e9 fundamental entender que o petr\u00f3leo \u00e9 um substituto para uma vis\u00e3o de mundo mais ampla, uma cosmologia profundamente vinculada ao Destino Manifesto e \u00e0 Doutrina do Descobrimento, que classificou as vidas humanas e n\u00e3o humanas em uma hierarquia r\u00edgida, situando os homens brancos crist\u00e3os no topo. Nesse contexto, o petr\u00f3leo \u00e9 o s\u00edmbolo da mentalidade extrativista: contempla n\u00e3o apenas a percep\u00e7\u00e3o de que seguir extraindo combust\u00edveis f\u00f3sseis \u00e9 um direito concedido por Deus, como tamb\u00e9m \u00e9 um direito continuar tomando o que quiser, deixando veneno pelo caminho sem nunca olhar para tr\u00e1s.<\/p>\n

Por isso, a veloz crise clim\u00e1tica representa n\u00e3o somente uma amea\u00e7a econ\u00f4mica para pessoas envolvidas nos setores extrativistas, mas tamb\u00e9m uma amea\u00e7a cosmol\u00f3gica para quem tem essa vis\u00e3o de mundo. Porque as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas significam a Terra nos dizendo que nada \u00e9 de gra\u00e7a, que a era do \u201cdom\u00ednio\u201d humano (branco e masculino) acabou, que n\u00e3o existe uma rela\u00e7\u00e3o de m\u00e3o \u00fanica que envolva apenas tomar para si, que toda a\u00e7\u00e3o implica rea\u00e7\u00e3o. S\u00e9culos de perfura\u00e7\u00f5es e jatos de combust\u00edvel agora desencadeiam for\u00e7as que fazem com que at\u00e9 as estruturas mais robustas criadas pelas sociedades industriais \u2013 cidades costeiras, rodovias, plataformas petrol\u00edferas \u2013 pare\u00e7am vulner\u00e1veis e fr\u00e1geis. Para a mentalidade extrativista, isso \u00e9 inaceit\u00e1vel.<\/p>\n

<\/div>\n

Dadas suas cosmologias comuns, n\u00e3o dever\u00edamos nos surpreender com a converg\u00eancia entre Putin, Trump e os \u201ccomboios da liberdade\u201d, a partir de geografias d\u00edspares e circunst\u00e2ncias extremamente diferentes. Trump celebra<\/a> o \u201cmovimento pac\u00edfico de caminhoneiros, trabalhadores e fam\u00edlias patri\u00f3ticas do Canad\u00e1 protestando por seus direitos e liberdades mais b\u00e1sicos\u201d; Tucker Carlson e Steve Bannon torcem por Putin enquanto caminhoneiros ostentam bon\u00e9s da campanha de Trump; Randy Hillier \u2013 membro da Assembleia Legislativa de Ont\u00e1rio e um dos apoiadores mais animados do comboio \u2013 declara no Twitter que \u201cMuito mais pessoas morreram e morrer\u00e3o dessa inje\u00e7\u00e3o [vacinas contra a covid-19] do que na guerra R\u00fassia\/Ucr\u00e2nia\u201d. E o que dizer do restaurante em Ont\u00e1rio que colocou em seu quadro de pratos do dia<\/a> o an\u00fancio de que Putin \u201cn\u00e3o est\u00e1 ocupando a Ucr\u00e2nia\u201d, mas enfrentando o Great Reset e os satanistas, \u201clutando contra a escraviza\u00e7\u00e3o da humanidade\u201d.<\/p>\n

\u00c0 primeira vista, essas alian\u00e7as parecem profundamente estranhas e improv\u00e1veis, mas veja um pouco mais de perto. Fica evidente que h\u00e1 uma atitude comum em rela\u00e7\u00e3o ao tempo, apegada a uma vers\u00e3o idealizada do passado, que rejeita, de modo enf\u00e1tico, verdades dif\u00edceis sobre o futuro. Tamb\u00e9m compartilham o prazer em exercer for\u00e7a bruta: caminh\u00e3o de 18 rodas versus<\/i> pedestre, grito de realidade fabricada versus<\/i> relat\u00f3rio cient\u00edfico cauteloso, arsenal nuclear versus<\/i> metralhadora. Essa \u00e9 a energia que emerge atualmente em esferas muito variadas, deflagrando guerras, atacando sedes de governos e desestabilizando, com postura desafiadora, os sistemas de apoio \u00e0 vida do nosso planeta. Este \u00e9 o ethos<\/i> na raiz de tantas crises democr\u00e1ticas, geopol\u00edticas e clim\u00e1ticas: o apego violento a um passado t\u00f3xico e a recusa a enfrentar um futuro mais complexo e inter-relacional, cujas fronteiras finais s\u00e3o os limites do que as pessoas e o planeta suportam. Trata-se da pura express\u00e3o do que a escritora bell hooks frequentemente descrevia, com sutil ironia, como \u201cpatriarcado capitalista supremacista branco imperialista\u201d \u2013 porque \u00e0s vezes \u00e9 necess\u00e1rio descrever com precis\u00e3o todas as grandes armas do nosso mundo.<\/p>\n

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Um m\u00edssil atinge um pr\u00e9dio residencial em Kiev, Ucr\u00e2nia, em 26 de fevereiro de 2022.<\/p>\n

\nFoto: Marcus Yam\/Los Angeles Times via Getty Images<\/p><\/div>\n

A tarefa pol\u00edtica mais urgente que temos em m\u00e3os \u00e9 pressionar Putin o suficiente para que ele veja sua invas\u00e3o criminosa da Ucr\u00e2nia como um risco grande demais a se sustentar. Mas isso \u00e9 apenas o mais simples dos come\u00e7os. \u201cH\u00e1 uma janela breve e que se fecha rapidamente para garantir um futuro habit\u00e1vel no planeta\u201d, afirmou<\/a> Hans-Otto Portner, copresidente do grupo de trabalho do IPCC respons\u00e1vel pelo relat\u00f3rio hist\u00f3rico divulgado no final de fevereiro. Se h\u00e1 uma tarefa pol\u00edtica unificadora em nosso tempo, \u00e9 a de fornecer uma resposta abrangente a essa conflagra\u00e7\u00e3o de nostalgias t\u00f3xicas. Em um mundo moderno que nasce do genoc\u00eddio e da desapropria\u00e7\u00e3o, \u00e9 necess\u00e1rio elaborar a vis\u00e3o de um futuro em que nunca estivemos antes.<\/p>\n

Salvo raras exce\u00e7\u00f5es, as lideran\u00e7as de nossos pa\u00edses n\u00e3o est\u00e3o \u00e0 altura de enfrentar esse desafio. Putin e Trump s\u00e3o figuras nost\u00e1lgicas, que olham para tr\u00e1s, acompanhados por muita gente na extrema direita. Jair Bolsonaro foi eleito jogando com a nostalgia da ditadura militar no Brasil, e, de forma alarmante, as Filipinas est\u00e3o prestes a eleger como presidente Ferdinand Marcos Jr., filho do falecido ditador que pilhou e aterrorizou o pa\u00eds asi\u00e1tico nas d\u00e9cadas de 1970 e 1980. Mas n\u00e3o se trata de uma crise exclusiva da direita. Muitos expoentes progressistas tamb\u00e9m s\u00e3o figuras profundamente nost\u00e1lgicas que oferecem apenas neoliberalismo requentado como ant\u00eddoto para o fascismo em ascens\u00e3o, abertamente alinhados com interesses corporativos predat\u00f3rios \u2013 da ind\u00fastria farmac\u00eautica aos grandes bancos \u2013 que destru\u00edram padr\u00f5es de vida. Joe Biden foi eleito com a promessa reconfortante de um retorno \u00e0 normalidade pr\u00e9-Trump, ainda que esse tenha sido o solo em que o trumpismo brotou. Justin Trudeau \u00e9 a vers\u00e3o mais jovem do mesmo impulso: um eco superficial de economia da aten\u00e7\u00e3o do seu pai, o ex-primeiro-ministro canadense Pierre Elliott Trudeau. Em 2015, a primeira declara\u00e7\u00e3o de Trudeau Jr. na arena mundial foi \u201cO Canad\u00e1 est\u00e1 de volta\u201d. Cinco anos depois, Biden disse<\/a>: \u201cA Am\u00e9rica est\u00e1 de volta, pronta para liderar o mundo\u201d.<\/p>\n

N\u00e3o derrotaremos as for\u00e7as da nostalgia t\u00f3xica com essas doses fracas de nostalgia um pouco menos t\u00f3xica. N\u00e3o basta estar \u201cde volta\u201d, precisamos desesperadamente de algo novo. A boa not\u00edcia \u00e9 que sabemos como \u00e9 lutar, ao mesmo tempo, contra as for\u00e7as que permitem as agress\u00f5es imperiais, o pseudo-populismo de direita e o colapso clim\u00e1tico. Soa muito como um Green New Deal, um marco para abandonar os combust\u00edveis f\u00f3sseis<\/a> investindo em empregos sindicalizados de apoio \u00e0 fam\u00edlia, por meio de ocupa\u00e7\u00f5es significativas \u2013 como a constru\u00e7\u00e3o de casas verdes acess\u00edveis e boas escolas, come\u00e7ando pelas comunidades mais sistematicamente abandonadas e polu\u00eddas. Isso requer deixar para tr\u00e1s a fantasia de crescimento sem limites e investir nos trabalhos de cuidado e reparo<\/a>.<\/p>\n

O Green New Deal \u2014 ou o Red, Black, and Green New Deal<\/a>, iniciativa que busca envolver minorias no ativismo clim\u00e1tico \u2014 \u00e9 nossa melhor esperan\u00e7a para a constru\u00e7\u00e3o de uma coaliz\u00e3o multirracial robusta da classe trabalhadora, fundada na busca de um terreno comum que supere divis\u00f5es. \u00c9 tamb\u00e9m a melhor maneira de bloquear os petrod\u00f3lares que fluem para pessoas como Putin, j\u00e1 que as economias verdes que venceram o v\u00edcio do crescimento sem fim n\u00e3o precisam de petr\u00f3leo e g\u00e1s importados. Tamb\u00e9m \u00e9 assim que cortamos o oxig\u00eanio do pseudo-populismo de Trump\/Carlson\/Bannon, cujas bases se expandem porque eles s\u00e3o muito melhores em explorar a raiva dirigida \u00e0s elites de Davos do que o Partido Democrata, cujos l\u00edderes, em sua maioria, integram essas elites.<\/p>\n

A invas\u00e3o russa na Ucr\u00e2nia sublinha a urg\u00eancia desse tipo de transforma\u00e7\u00e3o verde, mas tamb\u00e9m traz \u00e0 tona novos desafios. Antes mesmo de os tanques russos come\u00e7arem a avan\u00e7ar, j\u00e1 ouv\u00edamos que a melhor maneira de parar o ataque de Putin seria aumentando a produ\u00e7\u00e3o de combust\u00edveis f\u00f3sseis na Am\u00e9rica do Norte. Poucas horas ap\u00f3s a invas\u00e3o, todos os projetos que incendiaram o planeta \u2014 e que o movimento por justi\u00e7a clim\u00e1tica conseguiu bloquear na \u00faltima d\u00e9cada \u2014 foram novamente colocados \u00e0 mesa por pol\u00edticos de direita e especialistas amig\u00e1veis \u00e0 ind\u00fastria: todos os oleodutos que haviam sido cancelados, os terminais de exporta\u00e7\u00e3o de g\u00e1s impedidos, os campos de fracking protegidos e os sonhos de perfurar o \u00c1rtico. Como a m\u00e1quina de guerra de Putin \u00e9 financiada por petrod\u00f3lares, nos dizem que a solu\u00e7\u00e3o \u00e9 perfurar, fraturar e exportar mais por conta pr\u00f3pria.<\/p>\n

‘N\u00e3o existe jogo de curto prazo em rela\u00e7\u00e3o aos combust\u00edveis f\u00f3sseis’.<\/blockquote>\n

Tudo isso \u00e9 uma farsa capitalista desastrosa, do tipo que j\u00e1 comentei muitas vezes. Em primeiro lugar, a China segue comprando<\/a> petr\u00f3leo russo, n\u00e3o importa o que aconte\u00e7a na forma\u00e7\u00e3o de Marcellus ou nas areias betuminosas de Alberta. Em segundo lugar, as linhas do tempo s\u00e3o fant\u00e1sticas. N\u00e3o existe jogo de curto prazo em rela\u00e7\u00e3o aos combust\u00edveis f\u00f3sseis. Os projetos aventados como solu\u00e7\u00e3o para a depend\u00eancia em rela\u00e7\u00e3o aos combust\u00edveis f\u00f3sseis russos levariam anos para gerar impacto. Al\u00e9m disso, para que seus custos irrecuper\u00e1veis fizessem sentido financeiramente, eles precisariam seguir operando por d\u00e9cadas, o que desafia os alertas cada vez mais desesperados da comunidade cient\u00edfica.<\/p>\n

Mas \u00e9 claro que o impulso para novos projetos f\u00f3sseis na Am\u00e9rica do Norte n\u00e3o tem a ver com ajudar os ucranianos ou enfraquecer Putin. A verdadeira raz\u00e3o pela qual se tira a poeira de todos esses sonhos antigos \u00e9 muito mais grosseira: essa guerra os tornou mais lucrativos da noite para o dia. Na semana em que a R\u00fassia invadiu a Ucr\u00e2nia, o petr\u00f3leo de refer\u00eancia europeu \u2014 Brent \u2014 atingiu o pre\u00e7o de 105 d\u00f3lares o barril, algo que n\u00e3o era visto desde 2014, e o valor ainda paira acima dos 100 d\u00f3lares, o dobro comparado ao pre\u00e7o do final de 2020.<\/p>\n

Bancos e empresas de energia est\u00e3o desesperados para aproveitar ao m\u00e1ximo essa alta, no Texas, na Pensilv\u00e2nia e em Alberta.<\/p>\n

T\u00e3o certo quanto a determina\u00e7\u00e3o de Putin para redesenhar o mapa p\u00f3s-Guerra Fria do Leste Europeu, esse jogo de poder do setor de combust\u00edveis f\u00f3sseis deve alterar o mapa da energia. O movimento por justi\u00e7a clim\u00e1tica ganhou algumas batalhas muito importantes na \u00faltima d\u00e9cada. Conseguiu banir o fracking em diversos pa\u00edses, estados e prov\u00edncias. Tamb\u00e9m impediu o avan\u00e7o de grandes oleodutos, como o Keystone XL, muitos terminais de exporta\u00e7\u00e3o e perfura\u00e7\u00f5es no \u00c1rtico. As lideran\u00e7as ind\u00edgenas desempenharam um papel central em quase todas as lutas. Al\u00e9m disso, de forma extraordin\u00e1ria, at\u00e9 agora 40 trilh\u00f5es de d\u00f3lares<\/a> em dota\u00e7\u00f5es e fundos de pens\u00e3o de mais de 1.500 institui\u00e7\u00f5es j\u00e1 foram desinvestidos dos combust\u00edveis f\u00f3sseis, fruto de uma d\u00e9cada de mobiliza\u00e7\u00e3o obstinada em prol do desinvestimento.<\/p>\n

Mas aqui h\u00e1 um segredo que nossos movimentos muitas vezes escondem at\u00e9 de si mesmos: desde que o pre\u00e7o do petr\u00f3leo despencou em 2015, temos lutado contra uma ind\u00fastria que est\u00e1 de m\u00e3os atadas. Isso ocorre porque o petr\u00f3leo e o g\u00e1s mais baratos e de f\u00e1cil acesso est\u00e3o praticamente esgotados na Am\u00e9rica do Norte. As batalhas relacionadas a novos projetos dizem respeito sobretudo a fontes n\u00e3o convencionais e de extra\u00e7\u00e3o mais cara: combust\u00edveis f\u00f3sseis em rochas de xisto, nas profundezas oce\u00e2nicas ou sob o gelo do \u00c1rtico, ou ent\u00e3o o lodo semiss\u00f3lido das areias betuminosas de Alberta. Muitas dessas novas fronteiras de combust\u00edveis f\u00f3sseis s\u00f3 se tornaram lucrativas ap\u00f3s os EUA invadiram o Iraque em 2003, o que elevou os pre\u00e7os do petr\u00f3leo. De modo repentino, investimentos multibilion\u00e1rios para extrair petr\u00f3leo do fundo do mar ou transformar o betume lamacento de Alberta em petr\u00f3leo refinado passaram a fazer sentido. Vivemos anos de uma explos\u00e3o<\/a>, como descreve o Financial Times ao descrever o frenesi das areias betuminosas como \u201co maior boom de recursos da Am\u00e9rica do Norte desde a corrida do ouro de Klondike\u201d.<\/p>\n

No entanto, quando o pre\u00e7o do petr\u00f3leo colapsou em 2015, a determina\u00e7\u00e3o da ind\u00fastria de continuar crescendo em ritmo vertiginoso se tornou vacilante. Em alguns casos, os investidores n\u00e3o tinham certeza de que receberiam seu dinheiro de volta, o que levou algumas grandes empresas a recuarem em rela\u00e7\u00e3o ao \u00c1rtico e \u00e0s areias betuminosas. Com lucros e a\u00e7\u00f5es em queda, os ativistas do desinvestimento conseguiram argumentar que os estoques de combust\u00edveis f\u00f3sseis n\u00e3o eram apenas imorais, como tamb\u00e9m um p\u00e9ssimo investimento, mesmo em termos capitalistas.<\/p>\n

Bem, as a\u00e7\u00f5es de Putin desataram as m\u00e3os da ind\u00fastria do petr\u00f3leo e as transformaram em punhos.<\/p>\n

Isso explica a recente onda de ataques ao movimento clim\u00e1tico e ao pequeno grupo de pol\u00edticos democratas que obteve avan\u00e7os no que diz respeito a a\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas com base cient\u00edfica. O deputado republicano Tom Reed, de Nova York, afirmou: \u201cOs EUA t\u00eam os recursos energ\u00e9ticos para tirar totalmente a R\u00fassia do mercado de petr\u00f3leo e g\u00e1s, mas n\u00e3o usamos esses recursos por causa do favorecimento partid\u00e1rio do presidente Biden aos extremistas do meio ambiente do Partido Democrata\u201d.<\/p>\n

A verdade \u00e9 exatamente o oposto. Se as propostas de pol\u00edticas promissoras da \u00faltima d\u00e9cada, como o Green New Deal, tivessem sido implementadas, Putin n\u00e3o seria capaz de desrespeitar a lei e a opini\u00e3o p\u00fablica internacional como tem feito de forma flagrante, com a cren\u00e7a e a seguran\u00e7a de que seguir\u00e1 tendo clientes para seus hidrocarbonetos cada vez mais lucrativos. A crise subjacente que enfrentamos n\u00e3o \u00e9 que os pa\u00edses da Am\u00e9rica do Norte e do Leste Europeu tenham falhado em construir infraestruturas de combust\u00edveis f\u00f3sseis para desbancar o petr\u00f3leo e o g\u00e1s russos, e sim que todos n\u00f3s \u2013 EUA, Canad\u00e1, Alemanha, Jap\u00e3o \u2013 ainda consumimos quantidades obscenas e insustent\u00e1veis desses combust\u00edveis \u2013 na verdade, de energia, ponto final.<\/p>\n

Conhecemos a sa\u00edda para essa crise: ampliar a infraestrutura para as energias renov\u00e1veis, abastecer casas com energia e\u00f3lica e solar, fazer a transi\u00e7\u00e3o dos nossos sistemas de transporte para modelos el\u00e9tricos. E como todas as fontes de energia implicam custos ecol\u00f3gicos, tamb\u00e9m devemos reduzir a demanda por energia em geral, com maior efici\u00eancia, mais transporte coletivo e menos desperd\u00edcio decorrente do consumo excessivo. O movimento pela justi\u00e7a clim\u00e1tica defende isso h\u00e1 d\u00e9cadas. O problema, portanto, n\u00e3o \u00e9 que as elites pol\u00edticas tenham passado muito tempo escutando \u201cextremistas ambientais\u201d, e sim que elas praticamente n\u00e3o nos ouviram.<\/p>\n

Agora nos encontramos em um momento estranho. Muita coisa parece estar em jogo. A BP anunciou<\/a> que vender\u00e1 sua participa\u00e7\u00e3o de 20% na gigante petrol\u00edfera russa Rosneft, e outras empresas est\u00e3o seguindo esse exemplo. A not\u00edcia \u00e9 potencialmente boa para a Ucr\u00e2nia, j\u00e1 que a press\u00e3o sobre esse setor essencial certamente atrair\u00e1 a aten\u00e7\u00e3o de Putin. No entanto, tamb\u00e9m devemos ter consci\u00eancia de que isso provavelmente s\u00f3 est\u00e1 acontecendo porque a BP planeja tirar o m\u00e1ximo proveito do frenesi do petr\u00f3leo e do g\u00e1s na Am\u00e9rica do Norte e em outras regi\u00f5es, desencadeado pela alta dos pre\u00e7os. \u201cA BP segue confiante na flexibilidade e resili\u00eancia de sua estrutura financeira\u201d, assegurou aos observadores do mercado o comunicado<\/a> da empresa que anunciou a venda da participa\u00e7\u00e3o na Rosneft.<\/p>\n

Tamb\u00e9m \u00e9 significativo que a not\u00edcia da BP tenha chegado poucas horas ap\u00f3s o chanceler alem\u00e3o Olaf Scholz anunciar que seu pa\u00eds construir\u00e1 dois novos terminais de importa\u00e7\u00e3o para receber carregamentos de g\u00e1s natural, aumentando a depend\u00eancia em rela\u00e7\u00e3o aos combust\u00edveis f\u00f3sseis, em meio a uma emerg\u00eancia clim\u00e1tica. H\u00e1 muito tempo, esses terminais s\u00e3o criticados por ambientalistas alem\u00e3es, mas agora eles s\u00e3o propostos sob o manto da guerra, apresentados como a \u00fanica forma de compensar o g\u00e1s que, segundo declara\u00e7\u00e3o recente de Scholz, n\u00e3o<\/a> fluiria pelo Nord Stream 2 \u2013 gasoduto rec\u00e9m-constru\u00eddo que atravessa o Mar B\u00e1ltico. Esse movimento transformou uma pe\u00e7a de infraestrutura de combust\u00edvel f\u00f3ssil de \u00faltima gera\u00e7\u00e3o em um \u201crombo de 11 bilh\u00f5es de d\u00f3lares<\/a>\u201d, nas palavras do chefe da sucursal europeia do The Globe and Mail, Eric Reguly.<\/p>\n

No entanto, n\u00e3o s\u00e3o apenas os projetos de combust\u00edveis f\u00f3sseis que est\u00e3o sendo mortos e ressuscitados. \u201cEstamos dobrando a aposta nas energias renov\u00e1veis\u201d, anunciou<\/a> Ursula von der Leyen, presidente da Comiss\u00e3o Europeia, antes da invas\u00e3o russa. \u201cIsso aumentar\u00e1 a independ\u00eancia estrat\u00e9gica da Europa em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 energia.\u201d<\/p>\n

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A refinaria de petr\u00f3leo Sinclair Wyoming, em Sinclair, no estado do Wyoming, em 24 de fevereiro de 2022.<\/p>\n

\nFoto: Bing Guan\/Bloomberg via Getty Images<\/p><\/div>\n

Ao observarmos essas pe\u00e7as de xadrez geopol\u00edtico voando pelo tabuleiro em quest\u00e3o de dias \u2013 acompanhadas da \u00faltima onda de san\u00e7\u00f5es dr\u00e1sticas contra empresas a\u00e9reas e bancos russos \u2013, h\u00e1 muitas raz\u00f5es para o temor, incluindo novas medidas que punem os pobres pelos crimes dos ricos. Mas tamb\u00e9m h\u00e1 lampejos de otimismo. O que d\u00e1 \u00e2nimo \u00e9 menos a subst\u00e2ncia de qualquer movimento individual do que sua velocidade e determina\u00e7\u00e3o. Como nos primeiros meses da pandemia<\/a>, a resposta \u00e0 invas\u00e3o russa deve nos lembrar que, apesar da complexidade de nossos sistemas financeiro e energ\u00e9tico, eles ainda podem ser transformados por decis\u00f5es de meros mortais.<\/p>\n

‘Se a BP pode desistir de uma participa\u00e7\u00e3o de 20% em uma importante petrol\u00edfera russa, qual investimento n\u00e3o pode ser abandonado se tiver como premissa a destrui\u00e7\u00e3o de um planeta habit\u00e1vel?’<\/blockquote>\n

Vale a pena refletir sobre algumas implica\u00e7\u00f5es. Se a Alemanha pode abandonar um gasoduto de 11 bilh\u00f5es de d\u00f3lares porque de repente ele \u00e9 visto como imoral (sempre foi), ent\u00e3o toda a infraestrutura de combust\u00edveis f\u00f3sseis que viola nosso direito a um clima est\u00e1vel tamb\u00e9m deveria ser debatida. Se a BP pode desistir de uma participa\u00e7\u00e3o de 20% em uma importante petrol\u00edfera russa, qual investimento n\u00e3o pode ser abandonado se tiver como premissa a destrui\u00e7\u00e3o de um planeta habit\u00e1vel? E se \u00e9 poss\u00edvel anunciar dinheiro p\u00fablico para a constru\u00e7\u00e3o de terminais de g\u00e1s em um piscar de olhos, ent\u00e3o n\u00e3o \u00e9 tarde para lutarmos por muito mais energia solar e e\u00f3lica.<\/p>\n

Como o ambientalista Bill McKibben escreveu em sua excelente newsletter<\/a>, Biden poderia ajudar nessa transforma\u00e7\u00e3o, usando os poderes dispon\u00edveis em per\u00edodos emergenciais para invocar a Lei de Produ\u00e7\u00e3o de Defesa, construir uma grande quantidade aquecedores el\u00e9tricos e envi\u00e1-los para a Europa, com o objetivo de mitigar a dor da perda do g\u00e1s russo. Esse \u00e9 o esp\u00edrito criativo que necessitamos neste momento. Porque se estamos construindo uma nova infraestrutura de energia \u2013 e precisamos fazer isso \u2013, certamente deve ser a infraestrutura do futuro, e n\u00e3o mais nostalgia t\u00f3xica.<\/p>\n

H\u00e1 muitas li\u00e7\u00f5es que devemos tirar do momento convulso que estamos vivendo. Sobre o risco de permitir que armas nucleares se proliferem sem controle<\/a>. Sobre a miopia de constranger antigas grandes pot\u00eancias. Sobre a grotesca vis\u00e3o seletiva<\/a> da m\u00eddia ocidental sobre quais pa\u00edses podem ser invadidos e quais vidas s\u00e3o descart\u00e1veis. Sobre quais migra\u00e7\u00f5es for\u00e7adas s\u00e3o tratadas como crise para as pessoas que se deslocam e quais s\u00e3o entendidas como crise para os pa\u00edses aos quais elas se dirigem. Sobre a disposi\u00e7\u00e3o de pessoas comuns na luta por suas terras \u2013 cujas batalhas por autodetermina\u00e7\u00e3o e integridade territorial s\u00e3o celebradas em alguns casos como heroicas, em outros, como atividades terroristas. S\u00e3o li\u00e7\u00f5es que devemos aprender quando vivemos este momento de hist\u00f3ria nua e crua.<\/p>\n

E devemos aprender esta tamb\u00e9m: quando a vida est\u00e1 em jogo, n\u00f3s, humanos, ainda podemos mudar o mundo que constru\u00edmos e faz\u00ea-lo de forma r\u00e1pida e grandiosa. Assim como ocorreu h\u00e1 dois anos, quando foi declarada a pandemia, vivemos um momento aterrorizante, mas altamente male\u00e1vel.<\/p>\n

A guerra est\u00e1 remodelando nosso mundo, mas a emerg\u00eancia clim\u00e1tica tamb\u00e9m. A quest\u00e3o \u00e9: vamos aproveitar os n\u00edveis de urg\u00eancia e a\u00e7\u00e3o dos tempos de guerra para catalisarmos a a\u00e7\u00e3o clim\u00e1tica e para que tenhamos mais seguran\u00e7a nas pr\u00f3ximas d\u00e9cadas? Ou permitiremos que a guerra jogue mais combust\u00edvel no planeta j\u00e1 em chamas? Esse desafio foi colocado de forma mais acentuada recentemente por Svitlana Krakovska, cientista ucraniana que integra o grupo de trabalho do IPCC, respons\u00e1vel pelo relat\u00f3rio divulgado em fevereiro. Enquanto seu pa\u00eds era atacado pelo Kremlin, ela teria dito<\/a> a seus colegas cientistas, em reuni\u00e3o virtual, que \u201cas mudan\u00e7as clim\u00e1ticas provocadas pelo homem e a guerra na Ucr\u00e2nia t\u00eam as mesmas ra\u00edzes: combust\u00edveis f\u00f3sseis e nossa depend\u00eancia em rela\u00e7\u00e3o a eles\u201d.<\/p>\n

‘Ao negar o colapso clim\u00e1tico, basta um passo para negar pandemias, elei\u00e7\u00f5es e basicamente qualquer forma de realidade objetiva’.<\/blockquote>\n

Os ataques russos \u00e0 Ucr\u00e2nia devem nos lembrar que a influ\u00eancia corruptora do petr\u00f3leo e do g\u00e1s est\u00e1 na raiz de praticamente todas as for\u00e7as que desestabilizam o planeta. E a presun\u00e7\u00e3o arrogante de Putin? Um oferecimento de Petr\u00f3leo, G\u00e1s e Armas Nucleares. E os caminh\u00f5es que ocuparam Ottawa por um m\u00eas, assediando moradores e enchendo o ar de fuma\u00e7a, inspirando outros comboios ao redor do mundo? Uma l\u00edder da ocupa\u00e7\u00e3o foi a um tribunal vestindo<\/a> um moletom com a frase \u201cEu ? petr\u00f3leo e g\u00e1s\u201d. Ela sabe quem s\u00e3o seus patrocinadores<\/a>. E a nega\u00e7\u00e3o da covid-19, acompanhada de uma crescente cultura conspirat\u00f3ria? Ei, ao negar o colapso clim\u00e1tico, basta um passo para negar pandemias, elei\u00e7\u00f5es e basicamente qualquer forma de realidade objetiva.<\/p>\n

Neste est\u00e1gio avan\u00e7ado do debate, muito disso \u00e9 bem compreendido. O movimento pela justi\u00e7a clim\u00e1tica ganhou todas as discuss\u00f5es sobre a\u00e7\u00f5es que transformam. No nevoeiro da guerra, o que corremos o risco de perder \u00e9 a nossa coragem. Porque nada \u00e9 t\u00e3o capaz de mudar a pauta como a viol\u00eancia extrema, mesmo aquela ativamente subsidiada pelo aumento do pre\u00e7o do petr\u00f3leo. Para evitar que isso aconte\u00e7a, poder\u00edamos fazer muito mais do que nos inspirar em Krakovska, que teria dito a seus colegas<\/a> de IPCC, naquela reuni\u00e3o a portas fechadas: \u201cN\u00e3o vamos nos render na Ucr\u00e2nia. E esperamos que o mundo n\u00e3o se renda para construir um futuro resiliente ao clima\u201d. Segundo testemunhas, as palavras dela comoveram tanto seu colega russo que ele teria se aproximado de Krakovska para pedir desculpas pelas a\u00e7\u00f5es do governo Putin \u2013 um vislumbre breve de um mundo que olha para frente, e n\u00e3o para tr\u00e1s.<\/p>\n

Tradu\u00e7\u00e3o: Ricardo Romanoff<\/em><\/p>\n

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A guerra est\u00e1 remodelando o mundo. Vamos aproveitar a urg\u00eancia desse momento para tomar uma a\u00e7\u00e3o clim\u00e1tica ou sucumbir a um boom final \u2013 e mortal \u2013 do petr\u00f3leo e do g\u00e1s?<\/p>\n

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