{"id":577018,"date":"2022-03-28T10:04:18","date_gmt":"2022-03-28T10:04:18","guid":{"rendered":"https:\/\/theintercept.com\/?p=391583"},"modified":"2022-03-28T10:04:18","modified_gmt":"2022-03-28T10:04:18","slug":"exclusivo-google-vetou-que-tradutores-russos-chamassem-guerra-na-ucrania-de-guerra","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/radiofree.asia\/2022\/03\/28\/exclusivo-google-vetou-que-tradutores-russos-chamassem-guerra-na-ucrania-de-guerra\/","title":{"rendered":"Exclusivo: Google vetou que tradutores russos chamassem guerra na Ucr\u00e2nia de guerra"},"content":{"rendered":"

No come\u00e7o de mar\u00e7o,<\/u> tradutores freelancers que trabalham para o Google receberam uma nova ordem: a guerra da R\u00fassia contra a Ucr\u00e2nia n\u00e3o poderia mais ser chamada de “guerra” nas tradu\u00e7\u00f5es em russo. Com efeito imediato, a palavra deveria ser substitu\u00edda por uma refer\u00eancia vaga a “circunst\u00e2ncias extraordin\u00e1rias”.<\/p>\n

O e-mail interno, obtido pelo Intercept<\/strong>, foi enviado por supervisores em uma empresa que traduz textos corporativos e interfaces de aplicativos para o Google e outros clientes.<\/p>\n

Os chefes comunicaram que, a pedido do Google, qualquer trabalho de tradu\u00e7\u00e3o para o russo deveria usar o termo “circunst\u00e2ncias extraordin\u00e1rias” em vez de “guerra”, segundo o e-mail. Os tradutores, no entanto, deveriam continuar usando o termo “guerra” no resto do mundo. Segundo o comunicado, a mudan\u00e7a na pol\u00edtica tinha a inten\u00e7\u00e3o de adequar o Google \u00e0 lei de censura russa<\/a>, promulgada logo depois da invas\u00e3o da Ucr\u00e2nia.<\/p>\n

<\/div>\n

Questionado sobre a diretriz, o porta-voz do Google Alex Krasov disse ao Intercept que “enquanto n\u00f3s pausamos os an\u00fancios do Google e a maioria das nossas atividades comerciais na R\u00fassia, n\u00f3s permanecemos focados na seguran\u00e7a dos nossos funcion\u00e1rios locais”. “Como foi largamente reportado, as atuais leis restringem as comunica\u00e7\u00f5es dentro da R\u00fassia. Isso n\u00e3o se aplica para os nossos servi\u00e7os de informa\u00e7\u00f5es, como a busca e o YouTube”, ele justificou.<\/p>\n

De acordo com um tradutor que conversou com o Intercept, as ordens se aplicam a todos os produtos do Google traduzidos para o russo, incluindo Mapas, Gmail, Adwords, as pol\u00edticas da empresa e as comunica\u00e7\u00f5es com os usu\u00e1rios. O tradutor pediu para ficar no anonimato para evitar repres\u00e1lias de seu empregador.<\/p>\n

O memorando interno ajuda a explicar porque algumas p\u00e1ginas do Google encontradas pelo Intercept, incluindo uma de pol\u00edticas de publicidade e ajuda para v\u00eddeo, usam termos eufem\u00edsticos como “emerg\u00eancia na Ucr\u00e2nia” na vers\u00e3o russa e “guerra na Ucr\u00e2nia” nas vers\u00f5es em ingl\u00eas e portugu\u00eas.<\/p>\n

A lei de censura, assinada por Vladimir Putin em 4 de mar\u00e7o, criou puni\u00e7\u00f5es severas \u2013 at\u00e9 15 anos de pris\u00e3o \u2013\u00a0para quem disseminar “informa\u00e7\u00e3o falsa” sobre o ex\u00e9rcito russo. Acredita-se que a medida inclua qualquer refer\u00eancia ao ataque russo como “guerra” ou “invas\u00e3o”, porque o Kremlin j\u00e1 endureceu contra o uso desses termos. O governo russo chama a guerra de “opera\u00e7\u00e3o militar especial” \u2013 e seu conselho de censura na internet j\u00e1 amea\u00e7ou bloquear<\/a> sites que usem termos como esses.<\/p>\n

Como v\u00e1rias outras empresas norte-americanas, o Google declarou apoio \u00e0 Ucr\u00e2nia e oposi\u00e7\u00e3o \u00e0 invas\u00e3o russa logo ap\u00f3s o come\u00e7o do ataque. E, como v\u00e1rios outros gigantes do Vale do Sil\u00edcio, tamb\u00e9m implementou novas pol\u00edticas para sufocar a propaganda do Kremlin. Em um post de 1\u00ba <\/b>\u00a0de mar\u00e7o,<\/a> o chefe de rela\u00e7\u00f5es globais da empresa, Kent Walker, escreveu que “nossos times est\u00e3o trabalhando contra o rel\u00f3gio para apoiar o povo da Ucr\u00e2nia com nossos produtos, defender contra amea\u00e7as de ciberseguran\u00e7a e trazer \u00e0 tona informa\u00e7\u00e3o confi\u00e1vel e de alta qualidade”.<\/p>\n

Walker acrescentou que o Google “suspendeu a maioria de suas atividades comerciais na R\u00fassia”, incluindo vendas a anunciantes russos, publicidade direcionada a espectadores russos no YouTube, inscri\u00e7\u00f5es para o Google Cloud na R\u00fassia e “funcionalidades de pagamento para a maior parte dos nossos servi\u00e7os”.<\/p>\n

Comentaristas ocidentais, em geral, receberam bem os esfor\u00e7os da empresa relacionados \u00e0 invas\u00e3o. Mas o e-mail e as tradu\u00e7\u00f5es na Central de Ajuda do Google sugerem que a posi\u00e7\u00e3o da empresa contra a propaganda do Kremlin \u00e9, at\u00e9 certo ponto, superada pelo interesse em continuar seus neg\u00f3cios na R\u00fassia.<\/p>\n

Nas vers\u00f5es em ingl\u00eas e portugu\u00eas de uma nota de suas pol\u00edticas de publicidade intitulada Atualiza\u00e7\u00f5es de pol\u00edticas para eventos sens\u00edveis<\/a>, de 27 de fevereiro de 2022, o Google explicou que estava suspendendo an\u00fancios online de ve\u00edculos de m\u00eddia estatais russos por causa da “atual guerra da Ucr\u00e2nia”, considerada um “evento sens\u00edvel”. A vers\u00e3o em russo, no entanto, se refere \u00e0 “emerg\u00eancia na Ucr\u00e2nia” no lugar de “guerra”.<\/p>\n

\n\"Nas\n

Uma p\u00e1gina de ajuda explica porque a empresa ir\u00e1 suspender propagandas da m\u00eddia estatal russa. A vers\u00e3o em portugu\u00eas fala em ‘atual guerra’, enquanto a vers\u00e3o russa menciona ‘situa\u00e7\u00e3o de emerg\u00eancia’.<\/p>\n<\/div>\n

Na central de ajuda de v\u00eddeos, o post Produtos e Servi\u00e7os Restritos<\/a> repete o aviso: “Devido \u00e0 guerra na Ucr\u00e2nia, vamos pausar an\u00fancios com conte\u00fado que explora, menospreza ou aprova a guerra”, l\u00ea-se em portugu\u00eas e ingl\u00eas. Na vers\u00e3o russa, o aviso est\u00e1 novamente alterado: “Devido \u00e0s circunst\u00e2ncias extraordin\u00e1rias na Ucr\u00e2nia, estamos suspendendo an\u00fancios com conte\u00fado que explore, negue ou justifique essas circunst\u00e2ncias extraordin\u00e1rias”.<\/p>\n

\n\"Na\n

Uma p\u00e1gina de ajuda explica porque a empresa est\u00e1 suspendendo propagandas de anunciantes baseados na R\u00fassia. A vers\u00e3o em portugu\u00eas fala em ‘atual guerra na Ucr\u00e2nia’, e a vers\u00e3o em russo se refere \u00e0 ‘circunst\u00e2ncias extraordin\u00e1rias\u2019 e ’emerg\u00eancia’.<\/p>\n<\/div>\n

Outro post de ajuda <\/a>encontrado pelo Intercept mostra a vers\u00e3o russa escrita de acordo com a nova lei de censura:<\/p>\n

\n\"Em\n

Em 10 de mar\u00e7o, a empresa trocou a palavra \u201cguerra\u201d por \u201cemerg\u00eancia\u201d na Ucr\u00e2nia. No dia 23 de mar\u00e7o, a vers\u00e3o em russo trouxe uma nova atualiza\u00e7\u00e3o, tamb\u00e9m com o eufemismo: \u201cDevido \u00e0s circunst\u00e2ncias extraordin\u00e1rias na Ucr\u00e2nia, estamos suspendendo a monetiza\u00e7\u00e3o de conte\u00fado que use, negue ou justifique a situa\u00e7\u00e3o atual\u201d.<\/p>\n<\/div>\n

Em alguns casos, as p\u00e1ginas de ajuda incluem as duas refer\u00eancias: “guerra” e o eufemismo sancionado pelo estado. N\u00e3o est\u00e1 claro o porqu\u00ea.<\/p>\n

\u00c9 poss\u00edvel que seja uma falha de um sistema de tradu\u00e7\u00e3o automatizada. De acordo com o tradutor, a maior parte das tradu\u00e7\u00f5es \u00e9 feita por um software. Nos casos mais sens\u00edveis \u2013 regras de comunidade e p\u00e1ginas de ajuda, por exemplo \u2013 normalmente h\u00e1 supervis\u00e3o humana para garantir a precis\u00e3o.<\/p>\n

O tradutor afirmou, ainda, que qualquer potencial uso do termo “guerra” no contexto da Ucr\u00e2nia poderia ser censurado em todos os produtos do Google que ainda est\u00e3o dispon\u00edveis no mercado russo. Ele ainda disse que a pol\u00edtica de uso de eufemismos poderia, por exemplo, ser aplicada em produtos como o Google Maps.<\/p>\n

O movimento \u00e9 apenas o exemplo mais recente da anu\u00eancia do Google e seus pares do Vale do Sil\u00edcio \u00e0s demandas de censura russa. Em 2019, ap\u00f3s press\u00e3o do Kremlin, a Apple concordou em reconhecer <\/a>a anexa\u00e7\u00e3o da Crimeia pela R\u00fassia no seu Maps do iOS.<\/p>\n

Em 2021, o Google divulgou que cumpriu 75% dos pedidos de remo\u00e7\u00e3o de conte\u00fados recebidos pelo governo russo no ano anterior. Na mesma \u00e9poca, tanto o Google quanto a Apple concordaram em remover aplicativos l<\/a>igados ao proeminente cr\u00edtico de Putin Aleksei Navalny.<\/p>\n

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Se curvando \u00e0 censura de Putin, empresa ordenou que tradu\u00e7\u00f5es em russo substitu\u00edssem o termo por \u2019circunst\u00e2ncias extraordin\u00e1rias’.<\/p>\n

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