{"id":635184,"date":"2022-05-03T10:00:27","date_gmt":"2022-05-03T10:00:27","guid":{"rendered":"https:\/\/theintercept.com\/?p=395370"},"modified":"2022-05-03T10:00:27","modified_gmt":"2022-05-03T10:00:27","slug":"centrao-nutrido-nordeste-com-sede","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/radiofree.asia\/2022\/05\/03\/centrao-nutrido-nordeste-com-sede\/","title":{"rendered":"Centr\u00e3o nutrido, Nordeste com sede"},"content":{"rendered":"
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Foto: Leo Lemos\/ASA<\/p><\/div>\n

Quando voc\u00ea escuta<\/u> “Nordeste” ou principalmente “sert\u00e3o”, que imagens v\u00eam primeiro \u00e0 sua mente? Vou arriscar algumas: rio seco, solo rachado, menino mirrado, ossada de um boi morto de sede, casinha fina e torta de pobreza. Associadas a todas elas, a grande estrela cuja fama internacional se deu n\u00e3o pela presen\u00e7a, mas sobretudo pela aus\u00eancia: a \u00e1gua.<\/p>\n

Pois bem: essa falta e sua forma que molda o menino magro, o ch\u00e3o rachado, o boi morto e a casinha depauperada voltaram a brilhar como sol forte no Brasil do patriota que celebra orgulhoso as compras do bilion\u00e1rio sul-africano Elon Musk<\/a>, mas repudia o escancaramento de quest\u00f5es nacionais graves como a infla\u00e7\u00e3o alt\u00edssima<\/a>, a fome e o aumento do furto de comida nos supermercados.\u00a0<\/a><\/p>\n

Principal rede de organiza\u00e7\u00f5es que trabalha h\u00e1 quase 23 anos na implementa\u00e7\u00e3o de cisternas de cimento para armazenar \u00e1gua da chuva na regi\u00e3o, a Articula\u00e7\u00e3o Semi\u00e1rido Brasileiro, a ASA, est\u00e1 h\u00e1 um ano e meio sem instalar um \u00fanico equipamento. H\u00e1 uma demanda de 350 mil fam\u00edlias \u00e0 espera dos reservat\u00f3rios. Eles s\u00e3o colocados ao lado de casas, escolas e planta\u00e7\u00f5es e guardam 16 mil ou 52 mil litros de \u00e1gua, usada para beber, cozinhar, banhar, regar planta\u00e7\u00f5es e sustentar animais. Ou seja, para quebrar, na raiz, aquela pobreza e sofrimentos brabos que voc\u00ea, eu e a maioria das pessoas conhece a respeito do Nordeste. A manuten\u00e7\u00e3o dessas cenas tem uma raz\u00e3o: ajudam os projetos de manuten\u00e7\u00e3o de poder.<\/p>\n

Considerando uma m\u00e9dia de 5 integrantes por fam\u00edlia em cada casa, o programa estima ter alcan\u00e7ado seis milh\u00f5es das 27 milh\u00f5es de pessoas que vivem no semi\u00e1rido. Cerca de 1,2 milh\u00e3o de cisternas foram constru\u00eddas desde 2003, quando o Programa Um Milh\u00e3o de Cisternas, o P1MC, foi institucionalizado.<\/p>\n

O projeto, que alcan\u00e7a o norte de Minas Gerais, foi sendo sufocado a passos largos: em 2020, foram constru\u00eddos somente 8.310 equipamentos, uma queda de 73% em rela\u00e7\u00e3o a 2019, quando 30.583 cisternas foram implementadas. Para se ter ideia, a entidade j\u00e1 conseguiu instalar 149 mil delas em um \u00fanico ano, 2014.<\/p>\n

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Principal rede de organiza\u00e7\u00f5es envolvida com implementa\u00e7\u00e3o de cisternas, a Articula\u00e7\u00e3o Semi\u00e1rido Brasileiro, a ASA, est\u00e1 h\u00e1 um ano e meio sem instalar um \u00fanico equipamento.<\/p>\n

\nLeo Lemos, ASA<\/p><\/div>\n

O apag\u00e3o completo de uma pol\u00edtica vital para fazer mudar o hist\u00f3rico quadro do Nordeste como “tipo ideal” do pobre brasileiro tem nome e sobrenome: Jair Bolsonaro. O governo do presidente e candidato \u00e0 reelei\u00e7\u00e3o tem diversos motivos para desidratar n\u00e3o s\u00f3 a exist\u00eancia do projeto, mas a de milh\u00f5es de adultos, crian\u00e7as, jovens e idosos que dependem dele para viver: ignor\u00e2ncia sobre as din\u00e2micas clim\u00e1ticas da regi\u00e3o, preconceito contra nordestinos explicitado diversas vezes<\/a> e uma menor popularidade no segundo maior col\u00e9gio eleitoral do pa\u00eds<\/a> s\u00e3o os mais aparentes. Mas tem mais, muito mais: o investimento pesado na destrui\u00e7\u00e3o tem ainda como meta privilegiar repasses para o Centr\u00e3o, que \u00e9 hoje um misto entre corte real, churrascaria e minist\u00e9rio da Economia, concentrando poder, apetite e chave do cofre.<\/b><\/p>\n

Como mostraram Mateus Vargas e Fl\u00e1vio Ferreira nessa reportagem publicada pela Folha<\/a>, o prefeito de Petrolina, no Sert\u00e3o de Pernambuco, Miguel Coelho, anunciou em abril de 2021, nas suas redes, a entrega de mil cisternas de pl\u00e1stico para toda zona rural de Petrolina<\/a>. No texto, ele fez quest\u00e3o de dizer que os recursos foram destinados por nomes como o do senador Fernando Bezerra Coelho, pai de Miguel e ex-l\u00edder do governo no Senado. A “for\u00e7a pol\u00edtica”, como colocado pelo prefeito no v\u00eddeo, estava reunida do dep\u00f3sito da terceira superintend\u00eancia da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do S\u00e3o Francisco e do Parna\u00edba, a Codevasf.<\/p>\n

Trata-se do que foi chamada de “a estatal do Centr\u00e3o<\/a>“, o \u00f3rg\u00e3o que explodiu em tamanho e verba e \u00e9 joia da coroa no famoso casamento entre Bolsonaro e turma de Arthur Lira e Ciro Nogueira, ambos do Progressistas: a companhia, que tem regras de contrata\u00e7\u00e3o mais flex\u00edveis \u2013 e a gente manda aquele beijo para o TCU \u2014,\u00a0 ampliou sua \u00e1rea de atua\u00e7\u00e3o territorial de 27,05% para 36,59% e recebeu R$ 3,6 bilh\u00f5es em emendas de relator.<\/p>\n

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Assim, al\u00e9m de se ocupar com suas tradicionais obras de irriga\u00e7\u00e3o, a Codevasf passou tamb\u00e9m a atuar na compra de tratores e a realizar pavimenta\u00e7\u00f5es, duas expertises que, assim como as cisternas, tamb\u00e9m j\u00e1 se mostraram bastante lucrativas,<\/a> seja para o Centr\u00e3o<\/a>, seja para garantir a estabilidade de Bolsonaro (e seu desejo expl\u00edcito de golpe<\/a>) no poder.<\/p>\n

Resumindo: o que \u00e9 mesmo a melhoria na vida de milh\u00f5es de pessoas que moram no semi\u00e1rido quando se tem tantos bons acordos para fechar, n\u00e3o \u00e9 mesmo? Deixa esse pessoal a\u00ed \u2013 seco, rachado, mirrado, morto de sede, fininho e torto de pobreza \u2013, servindo como personagem para aparecer nos programas de TV<\/a> e nas reportagens especiais, para dar aquele joinha de agradecimento nas redes dos prefeitos e seus aliados, para servir de divers\u00e3o ao presidente<\/a>.<\/p>\n

Deixa eles continuarem a ser, antes de tudo, uns fortes.<\/p>\n

“Esse desmonte \u00e9 a destrui\u00e7\u00e3o da possibilidade de universaliza\u00e7\u00e3o da \u00e1gua. Ele n\u00e3o se refere apenas ao programa de cisternas, \u00e9 a descontinuidade de uma pol\u00edtica p\u00fablica que transformou a vida de milh\u00f5es de pessoas no semi\u00e1rido, que foi reconhecida como pol\u00edtica eficiente pela ONU no combate \u00e0 desertifica\u00e7\u00e3o. Isso \u00e9 muita coisa, pois estamos falando de uma conven\u00e7\u00e3o das Na\u00e7\u00f5es Unidas”, diz o bi\u00f3logo Alexandre Pires, que esteve \u00e0 frente da coordena\u00e7\u00e3o da Asa de 2015 at\u00e9 o m\u00eas passado e \u00e9 coordenador geral licenciado do Centro de Desenvolvimento Agroecol\u00f3gico Sabi\u00e1<\/a>.<\/p>\n

Segundo ele, o governo federal, ap\u00f3s concentrar para si \u2013 ou melhor, para o Centr\u00e3o \u2013 a responsabilidade pela instala\u00e7\u00e3o das cisternas, deixou de emitir desde maio de 2020 um boletim mensal de acompanhamento.<\/p>\n

H\u00e1 um aspecto essencial para entender o tamanho do desmonte na vida nordestina \u2013 e brasileira \u2013para al\u00e9m da quest\u00e3o do acesso \u00e0 \u00e1gua: a implementa\u00e7\u00e3o de cada cisterna movimentava a din\u00e2mica econ\u00f4mica nos territ\u00f3rios e munic\u00edpios onde foram constru\u00eddas. Primeiro, no caso das cisternas de placas (cimento e areia), eram realizados cursos de forma\u00e7\u00e3o para que agricultores e agricultoras das pr\u00f3prias comunidades pudessem ser os pedreiros e pedreiras na constru\u00e7\u00e3o do equipamento, fazendo com que muitos jovens conseguissem trabalho.<\/p>\n

Durante todo o processo, a alimenta\u00e7\u00e3o de pedreiros e ajudantes era baseada em compras feitas nos pr\u00f3prios munic\u00edpios, em parceria com agricultores e agricultoras locais \u2013 o Programa Um Milh\u00e3o de Cisternas, o P1MC, nasceu em 1999, e foi adotado como pol\u00edtica j\u00e1 em parceria com o ent\u00e3o Minist\u00e9rio Extraordin\u00e1rio de Seguran\u00e7a Alimentar e Combate \u00e0 Fome, Mesa, tamb\u00e9m desmontado.<\/p>\n

O material de constru\u00e7\u00e3o tamb\u00e9m seguia a mesma l\u00f3gica, e era adquirido em armaz\u00e9ns e com\u00e9rcios locais. “E h\u00e1 um impacto positivo muito forte na vida das mulheres, pois a instala\u00e7\u00e3o das cisternas prioriza as fam\u00edlias chefiadas por elas. Conhecemos algumas que caminhavam quatro quil\u00f4metros para poder alcan\u00e7ar \u00e1gua, acordando de madrugada para poder voltar para casa ainda pela manh\u00e3 e continuar a trabalhar, preparar comida, mandar os filhos para a escola”, continua Alexandre Pires.<\/p>\n

Vivendo em um s\u00edtio localizado na cidade de Flores, sert\u00e3o pernambucano, a agricultora Daniela Braz dos Santos, 33 anos, faz frequentemente uma pequena peregrina\u00e7\u00e3o para conseguir \u00e1gua para beber. Cavou um po\u00e7o em casa e gra\u00e7as a ele consegue \u00e1gua para a planta\u00e7\u00e3o e banhos, mas a qualidade\u00a0n\u00e3o permite que ela\u00a0a consuma. Assim, uma vizinha, que tem uma cisterna em sua resid\u00eancia, passou a oferecer-lhe \u00e1gua pot\u00e1vel. “Eu amarro um garraf\u00e3o no carrinho de m\u00e3o e vou at\u00e9 o reservat\u00f3rio sempre que preciso. \u00c9 a minha maior dificuldade, aqui a \u00e1gua da chuva se perde por falta de uma cisterna”, conta ela.<\/p>\n

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A agricultora Daniela Braz dos Santos, 35 anos, faz uma peregrina\u00e7\u00e3o para conseguir \u00e1gua para beber.<\/p>\n<\/div>\n

Em julho de 2020, moradores da zona rural de Flores enfrentaram a pandemia passando por um intenso racionamento de \u00e1gua, e falaram aqui sobre como era dif\u00edcil viver a situa\u00e7\u00e3o justamente por n\u00e3o terem reservat\u00f3rios maiores<\/a>. Daniela tamb\u00e9m aponta que a aus\u00eancia de acesso faz com que muitas pessoas jovens abandonem suas casas, povoados ou cidades. “\u00c9 muito dif\u00edcil para quem mora no meio rural, para quem vive da agricultura e necessita diretamente da \u00e1gua, seja para a cria\u00e7\u00e3o de animais, para a planta\u00e7\u00e3o. A falta de \u00e1gua faz com que a maioria v\u00e1 procurar outros meios de vida e saia para zona urbana atr\u00e1s de emprego, de um curso que traga uma situa\u00e7\u00e3o melhor.”<\/p>\n

No povoado quilombola do Barro Branco, em Belo Jardim, agreste pernambucano, a agricultora Elaine Lima do Nascimento, 35 anos, \u00e9 benefici\u00e1ria do que se pode chamar de uma primeira gera\u00e7\u00e3o das cisternas: h\u00e1 uma instalada ao lado de sua casa desde 2003. Antes, pegavam \u00e1gua nos barreiros, olhos d’\u00e1gua e pequenos a\u00e7udes, mas muitos frequentemente secavam por conta das estiagens ou mesmo da longa explora\u00e7\u00e3o. “A \u00e1gua tamb\u00e9m n\u00e3o tinha tratamento, e muita gente ia buscar uma lata longe daqui, distante a dois, tr\u00eas quil\u00f4metros”, comenta.<\/p>\n

A instala\u00e7\u00e3o das cisternas de placas (e n\u00e3o as de pl\u00e1stico, que custam o dobro<\/a>, n\u00e3o empregam m\u00e3o de obra local e t\u00eam menor impacto econ\u00f4mico) mudou tanto a necessidade de longos deslocamentos para obter um pouco de \u00e1gua quanto especializou as cerca de 200 fam\u00edlias do Barro Branco a manter os equipamentos e a tratar e evitar impurezas.<\/p>\n

“Cuidamos das calhas e as limpamos nas primeiras chuvas para evitar impurezas no reservat\u00f3rio, recolhemos os canos quando n\u00e3o est\u00e1 chovendo, protegemos com telas, pintamos com cal quando chega o ver\u00e3o para manter a \u00e1gua fresca”.<\/p>\n

Atualmente, 70 cisternas guardam a \u00e1gua da comunidade, mas h\u00e1 diversas fam\u00edlias que ou usam a \u00e1gua da vizinhan\u00e7a \u2013 como faz a agricultora Daniela \u2013 ou sobrevivem coletando o alimento no olho d’\u00e1gua do quilombo.<\/p>\n

Sai \u00e1gua, entra ideologia<\/h3>\n

N\u00e3o \u00e9 exagero afirmar que, al\u00e9m de funcionar bem como elemento-chave nas rela\u00e7\u00f5es fisiol\u00f3gicas entre governo e Centr\u00e3o, a destrui\u00e7\u00e3o dos programas de universaliza\u00e7\u00e3o da \u00e1gua tem um fort\u00edssimo componente a guerra imposta pela gest\u00e3o Bolsonaro a entidades consideradas “vermelhas” demais. \u00c9 justamente o caso da ASA: o aproveitamento da \u00e1gua de chuva para consumo humano e atividades produtivas era promovido por diversas organiza\u00e7\u00f5es da sociedade civil j\u00e1 no in\u00edcio dos anos 1990, mas a institucionaliza\u00e7\u00e3o dessa pr\u00e1tica como pol\u00edtica p\u00fablica (justamente com a cria\u00e7\u00e3o do P1MC) aconteceu durante a presid\u00eancia de Lula (2003-2010).<\/p>\n

Em 2011, no governo Dilma, ele ganhou nova roupagem e foi ampliado, recebendo o nome de Programa \u00c1gua Para Todos e inclu\u00eddo no Plano Brasil sem Mis\u00e9ria. Como mostra esse artigo<\/a> de Daniela Nogueira, Carolina Milhorance e Priscylla Mendes, o APT aumenta o acesso aos servi\u00e7os p\u00fablicos e vai mirar principalmente fam\u00edlias em situa\u00e7\u00e3o de extrema pobreza, possibilitando a gera\u00e7\u00e3o de excedentes comercializ\u00e1veis para a amplia\u00e7\u00e3o da renda familiar dos produtores rurais. “\u00c9 um chefe de estado que entende uma pol\u00edtica p\u00fablica importante como sendo algo de um partido, e n\u00e3o como uma pol\u00edtica de estado. Antes, era a popula\u00e7\u00e3o que se reunia e discutia que fam\u00edlias iam receber primeiro as cisternas, havia essa escolha pensada a partir das pr\u00f3prias comunidades. Agora, s\u00e3o as prefeituras que fazem os cadastros das fam\u00edlias, abrindo caminho para interesses puramente eleitoreiros”, comenta Alexandre Pires.<\/p>\n

Atualmente, a ASA n\u00e3o tem qualquer recurso para executar os projetos. Em 2019, o governo federal lan\u00e7ou um edital para a constru\u00e7\u00e3o das cisternas que simplesmente exclu\u00eda a entidade com enorme expertise e capilaridade de a\u00e7\u00e3o: segundo o documento, os proponentes n\u00e3o podiam ter presta\u00e7\u00e3o de contas ainda em aberto. Mas o caso \u00e9 que o pr\u00f3prio governo ainda n\u00e3o havia analisado as presta\u00e7\u00f5es j\u00e1 enviadas pela articula\u00e7\u00e3o, que precisou entrar com um mandado de seguran\u00e7a na justi\u00e7a para poder concorrer ao edital.<\/p>\n

Ganhou e assinou termo de colabora\u00e7\u00e3o em 31 de dezembro de 2019, da ordem de R$ 50 milh\u00f5es. Mas somente em fevereiro de 2021 \u00e9 que o Minist\u00e9rio da Cidadania repassou 28% da verba para constru\u00e7\u00e3o de 3.649 novas cisternas, um montante de R$ 14 milh\u00f5es. Veio a pandemia e com ela uma s\u00e9rie de problemas, entre eles o aumento do material de constru\u00e7\u00e3o e m\u00e3o de obra. “J\u00e1 em 2020 pedimos para que o governo revisse os valores repassados, o que s\u00f3 aconteceu um ano depois, em 2021. Mas havia tamb\u00e9m a necessidade de ajustes no ttermo de colabora\u00e7\u00e3o, para ampliar os recursos e mantermos o n\u00famero de tecnologias. Os recursos repassados eram para as constru\u00e7\u00f5es, n\u00e3o foi repassada a parte para o custeio, como pagamento de pessoal, contrata\u00e7\u00e3o de ve\u00edculos, alimenta\u00e7\u00e3o”, continua Pires. Assim, a verba nunca foi executada.<\/p>\n

Mas naquele mesmo 2021 pand\u00eamico, Bolsonaro prometeu a constru\u00e7\u00e3o de 2 mil cisternas<\/a> dentro do projeto \u00c1gua nas Escolas, que atenderia 100 mil alunos em 350 cidades nordestinas. Infelizmente, o verbo atender ficou mesmo no futuro do pret\u00e9rito: das 2 mil cisternas prometidas, apenas 83 foram constru\u00eddas at\u00e9 dezembro do ano passado, como mostra essa reportagem<\/a>.<\/p>\n

No lan\u00e7amento do projeto, que aconteceu no Minist\u00e9rio da Cidadania, em Bras\u00edlia, o presidente evocou, \u00e9 claro, todos os clich\u00eas poss\u00edveis do Nordeste que o interessa: dependente, ferido e sem \u00e1gua. “N\u00f3s, aqui, \u00e0s vezes n\u00e3o damos muito valor \u00e0 \u00e1gua, temos em abund\u00e2ncia. L\u00e1, quando voc\u00ea v\u00ea um velho nordestino, uma senhora de idade, com pele enrugada, entrando debaixo de uma bica d’\u00e1gua, n\u00e3o tem pre\u00e7o a alegria daquela pessoa, parece que ganhou na Mega-Sena”.<\/p>\n

N\u00e3o nos enganemos: a alegria destas pessoas tem sim um pre\u00e7o, e ele tem valores e pesos bem diferentes para quem est\u00e1 no semi\u00e1rido e para quem est\u00e1 na capital federal. Para as primeiras, custa se alimentar melhor, custa tempo, emprego, dinheiro e esfor\u00e7o. Custa estar ou n\u00e3o perto da fam\u00edlia, da terra, da casa. Para o governo Bolsonaro e sua base de apoio, custa manter milh\u00f5es de pessoas engessadas no tempo, na depend\u00eancia, no jogo eleitoreiro e pobreza \u2013 e isso gera, para eles, um enorme lucro<\/a>.<\/p>\n

*At\u00e9 o fechamento desta coluna, o Minist\u00e9rio da Cidadania n\u00e3o havia respondido \u00e0s mensagens solicitando informa\u00e7\u00f5es sobre as cisternas.<\/i><\/p>\n

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Governo Bolsonaro desidrata programa de universaliza\u00e7\u00e3o da \u00e1gua que atende milh\u00f5es de fam\u00edlias para alimentar o poder da turma de Lira, Ciro Nogueira e Fernando Bezerra.<\/p>\n

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